Prelúdio Irmão Bruin - Os Ombros que sustentarão a Montanha

*Ela sorri, enxugando as lágrimas.

- Gosto do senhor...meu nome é Elizabeth de Almain, filha de Ricardo.

* Olha as vestes de Bruin.

- O senhor é um homem de Deus?

* A garota se mantém atenta, seu coração estava aliviado e ouviria as histórias de Bruin por muitas horas, tranquilamente. E assim o fez.

Bruin sente-se renovado, também, estar em companhia de tão inocente e pura criança faz com que suas preocupações se tornem menores. Por poucas horas.

A noite cai e com ela a paz de ambos é interrompida por um sonoro e assustador Uivo. No meio do mar.

- AAAAHHHHHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU

* A garota se assusta, apertando as vestes de Bruin.

- O que...o que foi isso senhor!?

* Ao abrir a porta, Bruin nota um marujo pequeno e franzino que logo lhe fala.

- O ime...Capitão Barrabás solicita sua presença na cabine, meu senhor. Estamos prontos para ancorar na baía de Bristol e ele deseja lhe falar.

* Parece aguardar a resposta.

* O marujo engole seco e concorda.

- Sim senhor...basta seguir o corredor até o convés e subir as escadas para a cabine, senhor.

* Ele fica de pé ao lado da porta, olhando a garota que dorme como um anjo, ou como um bebê urso. Bruin segue pelo corredor e nota o mesmo líquido viscoso que viu no pequeno roedor espalhado pelo local. Mais à frente, sobe as escadas que dão à cabine e logo nota Barrabás com as mãos no leme e Sebastian Collins ao lado dele. De onde está, nota que estão muito próximos à um porto dos humanos. Um local feito de pedra nas quais as ondas se chocam, com alguns outros navios ancorados.

O local, por sua vez, era muito maior do que o encontrado aos pés da Floresta Negra. Diversos homens trabalhando em diversos afazeres, desde descarregar cargas até limpar peixes que são despejados no porto a todo instante.

Barrabás e Collins notam a aproximação do Gurahl.

* Com os braços cruzados para trás, observa o porto do Canal de Bristol com um sorriso discreto, mas pertinente, em sua face. Nota a aproximação do Gurahl.

- Irmão Bruin, espero em Deus - nosso senhor - que tenhas aproveitado a viagem e a noite que se passou. Uma tempestade nos atingiu, mas brevemente se dispersou.

* Olhando o porto.

- Mães, pais, filhos. Todos morrerão, em breve. E você foi uma peça fundamental para isto. E lhe asseguro, a humana enforcada padeceu rapidamente e sequer sentiu resquícios da agonia que os outros sentirão.

* Olha o Gurahl.

- Incomoda-lhe o fato da mãe da garotinha, provavelmente, estar morta ou a certeza de que teria morrido por tua insolência em me desobedecer?

* Com o olhar e o foco no Porto, que se aproxima a cada segundo.

- Senhor Bruin, sabes o que falta aos jovens? Atenção. Sim, são apressados, não ouvem, não são pacientes quando necessário.

- Sou um homem de palavra. Lhe informei que se obedecesse minhas ordens, nenhum viajante seria machucado. Desobedeceu, cumpri o que lhe foi dito.

Por um instante volta o olhar para o Urso.

- Em seguida lhe enviei uma garotinha para acalmar seus ânimos Ursídeos. Como foi um bom ouvinte desta vez, mantive minha palavra e a mãe da pobre criança vive. Por hora.

- Agora chegamos ao ponto que realmente importa. Devo matá-lo? Ou deixá-lo caminhar por Bristol e ver com seus próprios olhos as consequências daquilo que ajudou a criar será mais doloroso? Particularmente, já fiz minha escolha, mas gostaria de ouvi-lo. Afinal, sou cortês.

* Nota que Barrabás já manobra o imenso cargueiro para atracar no porto e se dirige a ele.

- Excelente, vá ao convés e ordene que os marujos preparem a ancoragem e indiquem aos viajantes que a viagem chegou ao fim.

* Retira um pequeno frasco com um líquido escuro do sobretudo e estende a mão para o Gurahl.

- Foi divertido, senhor Bruin. Mas nossa viagem termina aqui, a sua no entanto, deve prosseguir ao beber este líquido. Claro, obviamente o senhor negaria devido a desconfiança sobre minhas ações, mas o explicarei o motivo disso.

- Todos neste navio foram submetidos ao contato direto com uma substância especialmente preparada por mim. Estava no alimento e na bebida. Após uma série de preparativos e eventos, a substância ganhou propriedades...como posso dizer, místicas. Caso o senhor não tome um gole deste líquido, morrerá em três dias de uma forma bastante dolorosa e repugnante.

* Suspira.

- Mas os homens-urso são extremamente altruístas e ao meu ver, suicidas. Dessa forma seria natural que o senhor escolhesse morrer e tentar me matar agora. Por isso a pequena garota, Elizabeth, foi enviada a seus aposentos. Ela, e sua mãe, também foram infectadas através da comida, obviamente.

- Estou lhe oferecendo um frasco que contém a salvação para você, Elizabeth e sua mãe. Um detalhe que não mencionei anteriormente. Elizabeth é filha de Ricardo de Almain, tio do Rei Edward I.

- Sugiro que escolha mantê-la viva, uma morte de um membro da família real em um navio que partiu da Itália poderia gerar desavença entre as terras. Guerra e Morte. E não queremos isso, obviamente.

* Sorriu.

- Ah, enviei a querida mamãe de Elizabeth aos seus aposentos. As duas estão lá aguardando sua decisão. O que escolhes, Bruin?

* Olha o Gurahl com desdém.

- Eu já ganhei, senhor Bruin. Mas um escândalo seu em nossa chegada será incômodo, o antídoto é também um sonífero, dormirá um pouco ao bebê-lo.

* Olha o Canal de Bristol e deixa um sorriso escapar.

- Não questione sobre a possibilidade que teria de matá-lo. Já o poderia ter feito, em diversas oportunidades. O quero vivo, pronto para espalhar a história que viveu. Se povo é bom nisso, não?

- Estamos sem tempo. E quanto aos Almain? São parte de algo maior, se elas perecerem agora não me trarão benefício algum. Embora caso escolha assim, Bruin, não será prejudicial, de toda forma.

* Bruin retorna a seus aposentos, no caminho nota que o navio já está ancorado e a prancha principal está sendo preparada para o desembarque dos viajantes e dos suprimentos. Diversos marujos trabalhando e algo que lhe chama bastante atenção.

Todos, sem exceção, marujos e passageiros, tossem bastante e estão com a pele pálida.

Ao chegar em seus aposentos encontra Elizabeth e uma mulher muito bem trajada, seda pura talvez, com longos cabelos negros precisamente trançados e presos por uma tiara que parece ser de ouro. Seu olhar é triste.

- Irmão Bruin, suponho...o senhor irá...irá...nos ajudar? Elizabeth está doente e nos foi dito que o senhor nos ajudaria.

* A criança tossia forte. A mãe, embora se segurasse, não estava muito melhor.

* A mãe da pequena criança permite a atuação do frade, um homem de Deus. Bruin nota a pele da criança voltar a ficar corada, a tosse desaparece. Era um sopro de esperança para o jovem Gurahl em meio a uma viagem tenebrosa. A mãe da garota deixa lágrimas caírem.

- Um milagre...obrigado meu senhor...obrigado...mas o que?...

* Rapidamente a pele de Elizabeth volta a ficar pálida, como se não houvesse sangue circulando. Seus olhos ficam opacos e a tosse volta, ainda mais forte.

- ...Por Deus meu senhor, ajude-a...me deixe morrer, mas ajude-a...

* Clamava em desespero.

* A garota bebe o líquido e a tosse vai diminuindo aos poucos. A mãe da criança logo obedece o Frade.

- Sim meu senhor...sim...

Também bebe uma quantidade parecida, deixando apenas um terço no pequeno frasco. Ambas parecem melhorar vagarosamente. A tosse diminui, a pele ganha cor, os olhos voltam a brilhar. A mãe passa as mãos nos cabelos da criança que começa a adormecer.

- Muito obrigado meu senhor. Devo-lhe tudo, diga-me onde se instalarás e meu esposo cuidará de tudo aquilo que necessitar.

* Neste momento, Bruin sente uma dor no peito e tosse. Tosse sangue.