Fórum dos Presas de Prata

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    Mensagem por Ervin Palavra Austera Seg 13 Out 2014 - 3:09

    Salve salve. Me comprometi a traduzir a parte "Lendas dos Garou" do livro Lobisomem: Velho Oeste, não porque hajam crônicas ambientadas nesse período aqui no fórum, mas porque pra mim é uma das melhores introduções ao cenário, por ser ao mesmo tempo divertida e didática. Vou postar a primeira página. Se houver interesse, faço mais.

    HAVIA MUITO DINHEIRO NA MESA, MAS NENHUMA PRATA.

    Quatro homens e uma mulher - bem, três homens, uma mulher e um garoto - se sentavam em volta da mesa de feltro verde e encaravam as suas cartas. A uns poucos metros de distância, o barman ignorava dedicadamente a conversa dos jogadores enquanto polia um balcão já cintilante. Uma fileira de garrafas e copos estava arranjada como estalagmites ma frente do espelho do bar, que, incidentalmente, refletia tanto as duas portas balançantes na entrada do saloon e o grande conjunto de janelas localizado nos seus dois lados. Haviam outras mesas, também arrumadas para jogos de cartas, mas vazias agora no calor da tarde. Na frente, os cavalos dos jogadores focinhavam um ao outro em esforços fúteis de dominar o cocho de água; no andar de cima, um cliente roncava através de uma ressaca.

    As cadeiras eram de madeira e não combinavam: a maioria parecia ter sido liberada do vagão-restaurante de um trem, com estofamento vermelho desbotado e costas de madeira arranhada. Um candelabro pendurado no teto estava apagado, aguardando pacientemente pela noite.

    Os jogadores de pôquer não notaram nada disso. O primeiro, um homem musculoso num uniforme desbotado da Cavalaria dos Estados Unidos, franzia a testa intensamente para a sua mão de cartas sebosas. De rosto queimado pelo sol, ele possuia um bigode vermelho caído, e um rosto enrugado o suficiente para servir como mapa em auto-relevo para as terras selvagens. Ele tinha sido o último a chegar, e os outros notaram que ele mancava visivelmente. Aquilo por si só era o suficiente para franzir testas e despertar especulações: era necessário um tipo bem especial de surra para aleijar permanentemente um de sua espécie. Porém, nenhum dos outros foi rude o bastante para perguntar sobre isso a ele; eles tinham certeza de que Jonas Moon, 15ª Cavalaria de Nova York (aposentado) - como ele havia se apresentado - contaria sua história em seu próprio tempo.

    À direita de Moon estava sentada a única mulher do grupo, se abanando com suas cartas para abafar o calor do meio-dia. Ela tinha o porte físico e a graça de uma dançarina, mas suas mãos eram calejadas de trabalho duro. De cabelo e olhos pretos, mas de pele clara, ela havia sido a primeira dos cinco a aparecer; o resto entrou no recinto encontrando-a já sentada e bebericando um copo de cerveja. Aprende-os-Velhos-Costumes (ela disse que seus amigos humanos a chamavam de Janice) usava roupas de homem, camurça e couro que aparentavam ter passado por mais de um dono. Um tipo de amuleto indígena estava pendurado no seu pescoço, mas nenhum dos outros o reconheceu.

    O garoto havia sido o dealer na última rodada, e ele deu as cartas como se tivesse trabalhado num saloon por anos. Porém, esse foi o fim de seu profissionalismo. Ele estava sentado, com os olhos cobertos por um chapéu vários números maior do que sua cabeça, e olhava demais para sua mão. Todas as suas roupas diziam uma coisa: veio do Leste. [OFF: saído da Costa Leste dos EUA para explorar o Velho Oeste, termo histórico] Elas eram novas demais, limpas demais, frescas demais para terem sido usadas por muito tempo na fronteira, e simplesmente não se ajustavam bem. Volta e meia ele mexia num botão ou errava um bolso de uma maneira que sugeria que ele não estava acostumado.

    O garoto - na verdade, era como ele havia se apresentado, embora os outros tinham certeza de que ele queria que o "garoto" tivesse letra maiúscula - tinha armas, é claro. Armas brilhantes e novas em folha em coldres de couro tão novos que eles ainda rangeram como mobília velha quando o garoto se sentou. Quando o garoto entrou, Aprende-os-Velhos-Costumes apostou com seu vizinho do lado esquerdo que as armas nunca haviam sido usadas.

    Os outros jogadores já haviam marcado o garoto como um péssimo blefador, e vendo suas tentativas de parecer indiferente, Moon já havia cedido. Assim como o homem com quem Janice havia feito a sua aposta, um sujeito esguio cujos colete, calças, botas, chapéu e luvas estava todos suspeitamente livres de poeira de trilha. Um homem pouco gentil teria chamado o sujeito de dândi. Um homem de olhos aguçados teria notado as marcas nos canos das armas do sujeito, e se segurado de dizer o insulto. Um bigode loiro caía para além de seus lábios, e seus olhos eram de um azul penetrante.

    Durante as amenidades do jogo, ele havia deixado escapar (num sotaque arrastado de cavalheiro da Georgia) que ele se chamava Aaron Anda-com-Aço. Moon mais tarde havia resmungado que ele não queria saber com quem um sujeito andava, nenhum homem ou lobo nessa Terra de Gaia poda ser tão bom jogando cartas. Ouvindo isso, Aaron simplesmente deu um sorriso lupino e coletou os ganhos de mais uma mão. Magnanimamente, ele havia deixado cinco dólares na mesa para cobrir os pingos da próxima rodada. Na verdade, ele frequentemente fazia isso, mas uma vez que ele vencia quase todas as mãos, ele podia se dar ao luxo.

    Continua...
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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Ervin Palavra Austera Ter 14 Out 2014 - 2:01

    O último homem na mesa, um sujeito com os olhos furtivos e dedos rápidos de um jogador habituado, na verdade tinha passado a maior parte da tarde perdendo. Suas roupas, todas em tons misturados de marrom, claramente baratas, tinham uma característica incomum: o seu colete estava desbotado da cor de areia suja, exceto por uma parte do lado esquerdo - uma parte no formato de uma estrela de seis pontas.

    O último homem não havia se incomodado em se apresentar. Quando pressionado, ele resmungou algo sobre estar fazendo um serviço para os Pinkerton [OFF: agência particular de detetives e mercenários, muito atuante e muito temida na época] e encerrado o assunto. O barman parecia conhecer o homem, então ninguém pensou em trazer o assunto à tona de novo. Ninguém quer afastar o pior jogador da mesa, afinal de contas.

    O barman havia observado todos eles virem e se acomodarem, com um mínimo de curiosidade. Não era incomum que um certo grupo de pessoas especiais usasse seu saloon para toda sorte de reunião - de dia ou de noite. Na verdade, ele meio que tinha orgulho da reputação que seu saloon tinha dentre seu povo; a palavra que corria do Texas até ao Paralelo 54 era de que o Old Stone's, em Shilo, era um bom lugar para os negócios da "família".

    E se os negócios da família pareciam que iriam ficar feios, bem, o que ele mantinha no seu porão deixava até mesmo as cabeças mais quentes mais ou menos frias. Existem algumas coisas que são mais importantes do que lugar, sabe?

    Ele soube desde o início que esta seria uma daquelas reuniões especiais, uma das que ele tinha que ficar de olho, por vários motivos. Embora o barman ainda não tivesse passado por sua Primeira Mudança (e jamais passaria), ele já tinha visto várias, e o garoto parecia ter passado por ela sozinho. Pior ainda, o garoto possuia todos os sinais de ter lido romances baratos demais sobre a fronteira - e de que acreditava em todos eles.

    E também havia o colar indígena que a mulher lupina estava usando: o barman não tinha nada contra os índios (pelo menos não contra os que pagavam suas contas), mas as vezes uma matilha inteira que não entendia os acertos delicados que ele havia feito com os Uktena locais entrava na cidade gritando e uivando e geralmente tentando derrubar o lugar em função do que estava no porão. A maioria deles era parente dos Comanche, mas haviam alguns outros, e eles usavam amuletos que nem o da mulher lupina. Talvez ela fosse uma batedora para uma matilha diferente que estava planejando outro ataque ao caern que ele vigiava. Podia ser, podia ser.

    Além disso, havia o fato de que o sujeito elegante com o bigode triste estava trapaceando, mas Stone não se preocupou muito com isso. Afinal, se os outros não percebiam, quem era ele pra estragar o jogo do homem?

    [RECORTE DE JORNAL]

    ATAQUE COMANCHE REPELIDO!

    Chegou notícia a esse escritório que os nobres residentes da pequena cidade de Shilo valentemente repeliram um ataque dos selvagens da tribo Comanche na noite de quinta-feira passada. Os brutos traiçoeiros se infiltraram sob a calada da noite e poderiam muito bem ter massacrado a cidade inteira se não fosse pela intervenção da mãe-natureza. Testemunhas relatam que logo antes do ataque começar, lobos começaram a uivar na pradaria, despertando os habitantes pacíficos a tempo de ver os Comanches que se aproximavam. Os filhos de Shilo aproveitaram bem o aviso, e se prontificaram a repelir os seus atacantes com muita vontade.

    Taverna Tem Briga Apertada

    Curiosamente, relatos afirmam que o ponto mais intenso da luta se deu na Taverna Old Stone's no centro da cidade. Felizmente, na noite do ataque, Stone contava com a casa cheia de viajantes cansados, que estavam mais do que dispostos a ajudar os valentes habitantes em sua defesa valorosa. O coronel de cavalaria Jonas Moon, cujos esforços heróicos foram o assunto das damas de Shilo, apresentou a teoria de que os índios haviam atacado o saloon como resposta à venda de uísque de má qualidade para as tribos locais por parte de um comerciante desonesto. O coronel também desmereceu a ideia de que lobos haviam ajudado na defesa da cidade. "Eu conheço lobos", disse o coronel, "e eles não ajudam pessoas nas cidades. Pelo menos nenhum que eu tenha visto."

    Dono Jura Reconstruir

    Apesar deste ser o quarto ataque indígena que Shilo sofreu este ano, o dono da Stone's Ezekiel Stone jura que irá reconstruir seu estabelecimento, que foi parcialmente danificado pelo fogo. "Você firma raízes", disse Stone, "e você não quer tirá-las e se mudar." É bom que esses Comanches saibam que essa é nossa terra agora, e nós não vamos sair.

    Continua...

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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Ervin Palavra Austera Qua 15 Out 2014 - 2:35

    O FALASTRÃO

    "Três cartas", disse Aprende-os-Velhos-Costumes, "e não tente olhá-las dessa vez." O garoto corou e botou as três cartas no feltro verde, mesmo enquanto ela lhe dirigiu um sorriso predatório. Com dedos calejados, ela as botou em sua mão, e sua expressão rapidamente virou um franzido. "Merda."

    "Vai ceder de novo, minha cara dama?" Aaron, o georgiano, perguntou.

    "Não é da sua conta."

    "Ah, esqueci meus modos. Perdoe-me."

    "Cale a boca e deixe ela jogar," interrompeu o garoto. Os outros se viraram pra ver que ele já estava meio levantado de sua cadeira. Uma mão estava na mesa, a outra estava a meio caminho de seu coldre. As cartas se espalharam pra todo lugar. Lentamente, Aaron ergueu seu olhar para encontrar com o do dealer.

    "Garoto, você realmente acha que é rápido o bastante? Diabos, será que você acha que isso que está carregando é o suficiente para me derrubar? Os olhos de Aaron estavam travados nos do garoto, enquanto seus dedos se esgueiravam para os seus próprios coldres.

    "Talvez não, mas você não vai mais incomodar ela. E eu vou arriscar minhas chances com você, dândi." O tom de voz do garoto era desafiador, mas as suas mãos estavam tremendo. O sorriso de Aaron se alargou.

    "Não é que nem nos livros, né garoto?" Moon disse suavemente. "Não tem problema. Pode se sentar e nós continuamos com o jogo."

    "Não até ele se desculpar com Janice." O garoto exigiu.

    Moon virou sua cabeça de lado, seu olhar passando pela obviamente aborrecida Aprende-os-Velhos-Costumes até o dândi. "Aaron, se importa de pedir desculpas para que a gente possa continuar?"

    Anda-com-Aço balançou sua cabeça, lentamente. "Eu adoraria, caro coronel, mas receio que não possa. Se espalhassem por aí que eu cedi a esse moleque, eu escutaria desaforos em cada mesa daqui até Sacramento. Agora, veja bem, eu vou deixar ele pedir desculpas pra mim. Nós podemos até mesmo deixar isso formal do jeito que todo mundo gosta, e então continuarmos. Na verdade, eu gostaria muito disso."

    "De jeito nenhum que eu vou! Ponha suas mãos onde eu possa - uuuurrrrkkk!"

    E de repente, o garoto estava sentado com ambas as mãos na mesa. Aprende-os-Velhos-Costumes mais tarde disse que ela viu o estranho enganchar os tornozelos do garoto com seus pés e o puxar de volta à sua cadeira, mas os outros não viram nada além de um borrão.

    "Garoto," disse o Pinkerton numa voz de cansaço infinito, "senta e cala a boca."

    "Mas ele-"

    "Eu disse, cale a boca." O garoto caiu num silêncio repentino, enquanto Aaron sequer se importou em esconder um riso do outro lado da mesa. "Agora deixe-me explicar algumas coisas pra você sobre o que você acabou de fazer. Em primeiro lugar, está vendo aquele bom homem atrás do bar com as mãos onde você não pode vê-las? Ele é o barman, e o motivo pelo qual você não consegue ver as mãos dele, é porque as duas estão onde ele guarda a sua escopeta de estimação. Se você continuasse a arrumar problemas, ele teria apresentado um punhado de chumbo à sua nuca. Não é, Zeke?" De lábios apertados, o barman acenou com a cabeça e continuou a polir os copos.

    "Em segundo lugar, nunca se larga as cartas no meio de uma mão, especialmente se você for o dealer. Tem muito dinheiro na mesa: você quer descobrir a quem pertence esse papel? Em companhias menos amigáveis, eu já vi gente virar presunto por fazer o que você acabou de fazer."

    "Diabos, eu tinha três reis; eu teria ganho, de qualquer jeito." O tom do garoto era reclamão e petulante; de repente ele parecia ser muito mais novo do que os seus 18 anos."
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    Mensagem por Ervin Palavra Austera Qui 16 Out 2014 - 2:38

    "Não é esse o motivo, e com suas cartas espalhadas pelo chão, vai ser bem difícil provar isso, de qualquer jeito. Cartas são sagradas aqui. Entende isso? E outra coisa..."

    "Quanto tempo desde a sua Primeira Mudança, garoto?" Foi Aprende-os-Velhos-Costumes quem falou, encarando intensamente através da mesa. "Um mês? Dois?"

    "E-e-e-e-eu não sei do que você está falando."

    Aprende-os-Velhos-Costumes o ignorou, virando-se para Moon. "Pelos pássaros da Weaver, Moon, o garoto não pode ter mudado há mais de algumas semanas. E sem ninguém para ajudá-lo... Não quero pensar sobre isso."

    "Um filhote perdido..." o estranho resmungou. "Não é a toa que eu fui atraído pra cá."

    "Não pode ter sido agradável. Então Aaron Enfia-no-Orifício, ou o que quer que você se chame, acalme-se." Moon o encarou pesadamente e se virou para o garoto. "Filho, você tem duas escolhas. Pode nos deixar te ajudar, ou pode ser um mala falastrão, levantar seu traseiro e cair fora. Nesse caso, eu imagino que estará morto em uma semana. Por mais que os índios locais não gostem de nossas caras, os amigos deles gostam ainda menos das nossas caras verdadeiras."

    O rosto do garoto se contorceu num franzido confuso. "Coronel, eu não tenho ideia do que está falando, senhor. Nenhuma ideia mesmo, e se não se importa, eu vou me retirar." Ele começou a se levantar, mas foi interrompido por um comentário de Aaron.

    "Deixe eu adivinhar. Há alguns meses atrás, você começou a ter sonhos. Sonhos estranhos. Sobre correr, caçar, matar - e então uma noite, há algumas semanas, você descobriu que não era um sonho. Você estava com o rosto coberto de sangue e alguma coisa morta jazia aos seus pés. E você não podia correr pro colo da Mamãe e do Papai - eles são ricos, não são? É fácil dizer - mas você ficou assustado. Você não queria que seus queridos papai e mamãe lhe vissem com as tripas de alguma coisa, talvez alguém, que você tinha matado espalhadas pela sua cara. Então você fugiu, pegou um pouco do dinheiro do Papai e fugiu até aqui, porque você leu uns livros de aventuras baratos e achou que podia enfrentar a fronteira malvada, não? Quanto do dinheiro do Papai você roubou, hein garoto? Quanto que sobrou, hmm?

    A mão de Moon desceu na mesa como trovão. "Já chega, Anda-com-Aço, chega. Não consegue ver que o garoto está aterrorizado?"

    Era verdade. O garoto havia afundado na sua cadeira, com os olhos arregalados e tremendo. "Não foi desse jeito", ele suspirava de novo e de novo. "Eu juro que não foi desse jeito."

    Aprende-os-Velhos-Costumes olhou para Aaron com puro desprezo. "Brilhante. Você estava tentando transformar ele num lunático? Temos um filhote perdido aqui e tudo que você quer fazer é intimidar ele. Quando renome você acha que vamos lhe dar por essa performance? Ah, pode ter certeza de que vou cantar em cada assembleia que eu for pelos próximos 10 anos. O Conto de Aaron e sua Vitória Gloriosa Sobre uma Criança Assustada - vai soar bem, não acha?"

    Com um desinteresse exagerado, o jogador bocejou. "O menino precisa de uma educação. Eu estava dando uma pra ele. Alguém tem um problema com isso?"

    "Eu acho", e a dançarina olhou para o garoto, "que nós podemos fazer um trabalho melhor do que isso. Concorda, Moon?"

    O soldado concordou. "Decerto. Será que devo começar?"

    "Por favor."

    "Certo." O homem pesado estalou os dedos; os outros se encolheram ao ouvir o som. "Filho, deixe-me lhe contar um pouco sobre quem somos nós."

    [RECORTE DE JORNAL]

    HERDEIRO DA FORTUNA SPERLING DESAPARECIDO!

    RECOMPENSA OFERECIDA PELO SEU RETORNO!

    O Honorável Joseph A. Sperling aumentou hoje para U$50.000 a recompensa por informações sobre a localização de seu filho desaparecido, Arthur. O herdeiro da linhagem Sperling foi visto pela última vez na noite de 18 de junho, quando ele escoltava a Srta. Pamela Fielding, filha do Visconde Reginald Fielding, para uma performance da ópera de Rossini La Gazza Ladra na Academia de Música. Desde então, nem seus pais, Joseph A. e Elizabeth Sperling da Society Hill, nem ninguém mais viu o jovem Sperling.

    A polícia ainda não descartou a hipótese de crime no desaparecimento do jovem, já que a janela do quarto de Arthur foi encontrada aberta na noite de seu desaparecimento. O patriarca Sterling afirma que nenhuma exigência por resgate foi feita, e ainda acrescenta que ele não poupará esforços para recuperar seu filho desaparecido. Sperling afirma que seu filho era um rapaz bem-educado que não tinha inimigos, e era apreciado por todos que o conheciam.

    Aqueles com informação sobre o desaparecimento de Arthur Sperling podem contatar o Sr. Joseph Sperling em seu escritório no número 1604, Chestnut Street entre as 8 da manhã e 5 da tarde.
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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Ervin Palavra Austera Sex 17 Out 2014 - 2:43

    A HISTÓRIA DO SOLDADO

    "Agora, filho, a primeira coisa que eu tenho que te contar é o que nós somos. Nós somos o que você chamaria de lobisomens. Garou, como nós dizemos. Isso explica um pouco do que aconteceu naquela noite? De alguma forma, achei que explicaria."

    "Enfim, pode esquecer toda aquelas besteiras de folhetim que você leu sobre o que são lobisomens, o que eles são e tal. Eles não são mais precisos do que os romances que você leu sobre a fronteira. Nós não somos monstros, e não somos do tipo que sai por aí destruindo chalés e massacrando colonos. Ao invés disso, temos uma missão - ordens, se preferir - e fazer o que fazemos é o único jeito de cumprí-las. "

    "Neste momento, você deve estar se sentindo com pena de si mesmo. Deve estar pensando que sua vida está arruinada, que você nunca mais verá seus pais de novo, que você vai passar o resto de seus dias fugindo. Você está pensando que o que descobriu sobre si mesmo é que você foi amaldiçoado."

    "Isso é um disparate."

    "Você recebeu um dos maiores presentes que Gaia - ou Deus, se preferir chamar Ela assim - pode dispensar sob uma alma mortal. Você tem a força de um Sansão, acesso a toda sorte de truques mágicos, e a habilidade de falar com os espíritos que estão a toda nossa volta. E a que custo? Muito baixo, filho, muito baixo. Pelo menos, muito baixo se você for um soldado."

    "Sabe, se você acha que a Guerra entre os Estados [Guerra Civil Americana] foi algo de mais, bem, você vai se surpreender. Nós estamos lutando - e veja bem, filho, isso transcende Yankee e Rebelde, Velho Mundo e Novo Mundo, talvez até mesmo homem branco e índio - pelo mundo. Vê, nós fomos confiados com a missão de salvar o mundo de uma coisa que quer destruí-lo, do mesmo jeito que Sherman destruiu a Georgia." [William Sherman foi um general da União na Guerra Civil Americana] Aaron tossiu depois do último comentário.

    "O mundo inteiro? Isso é impossível! Quero dizer, como que alguém poderia fazer algo contra o mundo inteiro?" O garoto estava incrédulo, mas alguma cor havia voltado ao seu rosto pálido.

    "Eu disse alguém, garoto? Não, disse alguma coisa. Hmmm... parece que eu tenho que voltar atrás em um ou dois passos.

    "Existem três poderes no mundo, filho, sendo que Gaia -"

    "Pense Nela como a Mãe Natureza, e você vai entender mais fácil." disse Aprende-os-Velhos-Costumes.

    "- está acima de todos eles," continuou Moon. "Mas logo abaixo Dela existem três poderes; nos os chamamos de A Tríade. Tem a Weaver, que representa a ordem. Ela tece padrões no mundo. Então você tem a Wyld, que é o espírito do caos - mas de um jeito bom, veja bem. É criatividade, espontaneidade - aquele tipo de fagulha que você vê nos olhos de um bom soldado. E finalmente, tem a Wyrm, que é a destruição."

    "Então, as coisas eram pra funcionar assim: a Wyld sonha com uma coisa, a Weaver faz alguma coisa útil disso e a Wyrm se livra dela quando não for mais útil. Agora, veja bem, isso é o jeito como as coisas deveriam funcionar. Já não é mais assim."

    "Ninguém tem muita certeza do que aconteceu, mas eu ouvi dizer que a Weaver ficou meio fora de controle e tentou enrolar a Wyrm nas suas teias. A Wyrm, sendo do tipo mau-humorada nos seus melhores momentos, não lidou bem com isso, e decidiu que ia sair por aí e destruir tudo. E a Wyld, bem, não estava prestando muita atenção na hora. Aliás, se for pensar bem, eu nunca soube de alguma hora em que ela estivesse."

    "Então, é nisso que estamos metidos agora. A Weaver está tentando costurar a fronteira inteira, enquanto a Wyrm está tentando destruir ela inteira, e eu não sei se a Wyld sequer está notando."
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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Ervin Palavra Austera Sex 17 Out 2014 - 20:37

    "Eu posso ser lento, senhor, mas ainda não estou te entendendo. Você diz que um verme gigante está tentando comer o mundo? Bem, eu não vi muitas coisas, mas também não vi nenhum verme gigante nas minhas viagens, e você vai me perdoar se eu disser que acho que nunca verei."

    Moon suspirou. "Filho, eu acho que você não está me entendendo direito aqui, talvez de propósito. A Wyrm - e veja bem, se escreve com "y" - é um espírito. De certa forma, uma ideia, mas uma ideia que se move, pensa e come por conta própria. E embora não veja esse espírito lá fora derrubando casas, você vai ver as coisas que recebem as ordens dele. Gente que cede ao ódio ou à ganância, espíritos menores, mas malignos - nós chamamos eles de Malditos. Pessoas que são possuídas por esses Malditos e se transformam em monstros - no Velho Mundo nós chamávamos eles de fomori, por causa de uma lenda, mas por aqui chamamos eles de zombarias. E toda essa gente, criaturas e coisas entre uma e outra, bem, eles podem achar que estão fazendo o que querem fazer, mas a cada vez em que matam um homem honesto, ou queimam uma fazenda, ou envenenam um poço, ou matam alguns milhares de bisões por nenhum motivo e largam seus corpos pra apodrecer, eles estão fazendo o trabalho da Wyrm pra ela. Agora você entende?"

    Em silêncio, o garoto concordou. De forma quase tão silenciosa, o estranho pigarreou. "Eu acho que você fugiu um pouco do tema, Moon. Se importa se eu me intrometer?"

    O soldado espalhou suas mãos em um gesto de rendição. "Não me ofendo. Eu não sou um contador de histórias, nem mesmo um repórter. Veja bem, eu estava lá no dia em que Meade fez com que aquele sujeito do jornal de Richmond fosse expulso do acampamento, mas essa é outra história."

    "Você esteve com Meade? E Grant? [generais da Guerra Civil]" o garoto interrompeu. "Oh, eu adoraria ouvir sobre isso!"

    "Bem, eu não fiquei com Meade tanto tempo assim-"

    "Moon." A voz do estranho correu a mesa como um estalo de chicote. "Sua vez acabou. Quieto."

    Interrompido no meio da frase, Moon olhou para o mundo como um peixe em terra tentando respirar. "Claro, você está certo, sinto muito," foi tudo que ele conseguiu murmurar antes de cair num silêncio desapontado.

    O estranho deu um sorriso de lábios finos. "Obrigado pela gentileza, coronel. Agora, se não houverem mais interrupções?" Ele olhou ao redor da mesa. Aprende-os-Velhos-Costumes o encarou com um desafio próprio; nenhum dos outros levantou os olhos da mesa. "Certo. Então é isso. Agora, um pouco de aprendizado prático."

    [Recorte de Jornal]

    HORROR NOS TERRITÓRIOS!

    BARÕES DO GADO ATORDOADOS!

    Relatos vêm chegado de Wyoming, Colorado e outros territórios sobre uma série de incidentes envolvendo a mutilação sem sentido de gado e outros animais de criação. Nos últimos oito meses, literalmente milhares de cabeças de gado foram encontrados massacrados em seus pastos, vítimas de uma mutilação indizível. Os incidentes foram relatados em lugares tão distantes quando o leste do Texas e Montana, já que tudo indica que o perpetrador destes atos sem sentido está lentamente se movendo a noroeste.

    Vários criadores de gado culparam os criadores de ovelhas pelos incidentes horríveis, e várias das assim-chamadas "guerras de pasto" foram iniciadas por essas acusações. Criadores de ovelhas negam as acusações, afirmando que seus rebanhos também foram atacados, e que a pura selvageria dos incidentes está muito além de sua capacidade. Um criador de ovelhas disse, "Diabos, se eu quisesse acabar com o rebanho de um homem, eu iria só atirar na droga do gado; não ia precisar arrancar as línguas deles uma por uma. Isso é simplesmente doentio. Além disso, se alguém tentasse isso, ia ser pisoteado. Não, se me perguntar, tem algo sobrenatural acontecendo por aqui. Ainda bem que foi embora."
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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Ervin Palavra Austera Seg 20 Out 2014 - 1:09

    O CONTO DO HOMEM DA LEI

    "Bem, garoto, você já entendeu uma parte do básico. É meu trabalho te falar o resto, porque o Moon não consegue manter uma história direito," disse o estranho. Houve um pigarro abafado do outro lado da mesa, mas nada mais. "Existem regras e regulamentos para o que nós somos, e você tem que aprender eles antes de te soltarmos por aí. Senão estaremos mandando você pra morrer, e eu não quero seu fantasma me assombrando."

    O jogador da Georgia levantou uma sombrancelha. "Peregrino? Devia ter adivinhado. Vocês adoram bancar os enigmáticos."

    "É. Peregrino Silencioso. Algum problema? Achei que não. Agora, a primeira coisa a fazer é fazer com que o garoto saiba o que diabos isso quer dizer." O homem da lei girou seu olhar; fixando-o no garoto de novo. "Garoto, a primeira coisa que você tem que saber sobre ser um Garou é que não somos todos os mesmos. Estamos divididos em Tribos, que nem os índios. Há muito tempo atrás nós meio que nos dividimos de acordo com nossos sentimentos, interesses e tal, e mais ou menos nos separamos em 13 Tribos."

    "Dezesseis," interrompeu Aprende-os-Velhos-Costumes. "Conte a história completa."

    O estranho tocou no seu chapéu. "Dezesseis então. Desculpa, dona. Enfim, nós nos dividimos em 16 Tribos, apesar de que umas duas ou três já se foram. Agora, cada uma das Tribos tem seu pedacinho próprio, sua própria especialidade. A minha, os Peregrinos Silenciosos, bem, nós somos andarilhos. Indo de lugar em lugar, nunca parando num ponto só. Tendemos a carregar muitas mensagens e novidades, coisas do tipo. É claro, têm outras coisas a se falar sobre ser um Peregrino, como o fato de você atrair fantasmas que nem um cachorro atrai pulgas, mas é tudo parte do pacote." Por um segundo, ele olhou para a parte no seu colete onde ficava o distintivo. "É uma troca, eu acho. Mas é como funciona."

    "Em todo caso, não somos a única Tribo lá fora. Tem os Fianna, que são na maior parte irlandeses e tal e que normalmente" - ele lançou um olhar significativo para Moon - "normalmente contam as melhores histórias; os Roedores de ossos, que são meio que a escória da terra, mas que pelo menos não ficam reclamando muito sobre isso; os Cavaleiros do Ferro, que são um pouco juntos demais da Weaver, se me perguntar; e por aí vai."

    "Fúrias Negras, Roedores de Ossos, Garras Vermelhas, Cavaleiros do Ferro, Fianna, Senhores das Sombras, Peregrinos Silenciosos, Portadores da Luz Interior, Crias de Fenris e Filhos de Gaia." O tom da dançarina era conciso e terso. "Cada um com suas... estranhices, pecados e hábitos ruins."

    "Mas são só 11", o garoto reclamou. "Você disse 16 ou 13, não 11."

    A cabeça de Aaron se virou rápido, com uma expressão surpresa no rosto. "Contou rápido. Você é bom com números, garoto?"

    O garoto apenas deu de ombros. "Eu não achei nada de mais, só contando."

    O jogador encolheu os lábios. "Sabe, garoto, se você é bom com números, eu talvez tenha uma proposta pra você quando esse jogo terminar."

    "Sério? Bem, eu só trabalhei nos escritórios do meu pai por dois anos, mas ele disse que-" Um olhar definhante de Janice e um "Hrrrmf" de Moon foram o suficiente para enterrar o entusiasmo do garoto.

    O ex-homem da lei suspirou e levantou uma sombrancelha para o garoto, como que dizendo "Já terminou?" Quando o garoto acenou com a cabeça, envergonhado, o Peregrino manteve seu olhar nele por um longo minuto antes de continuar. "Existem duas outras Tribos por aí, mas elas não estão muito felizes conosco. Eles se chamam de "Os Puros", por nenhum motivo que eu possa ver, e eles são nascidos de índios e lobos nativos. Eles não gostam muito de nós, não que eu os culpe, mas do meu jeito de ver, não se pode ficar no caminho do progresso. Os Wendigo e Uktena - são os nomes que eles deram para si - não vêem dessa forma. Então essas são as 13 que sobraram."
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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Ervin Palavra Austera Dom 26 Out 2014 - 9:30

    "E as outras? O que aconteceu com elas?"

    Aaron soltou uma risada amarga. "Mortos ou coisa pior, meu garoto. Mortos ou coisa pior. Eu não sei todas as histórias, mas sei o suficiente. Pelas coisas que ouvi, os Croatan - Puros que nem os Wendigo - se sacrificaram há uns séculos atrás, e agora são só um uivo e uma memória. Agora, pelo que eu sei eles fizeram isso pra selar uma criatura da Wyrm ou outra - se eles pudessem ver como suas terras estão agora, bem, eu desconfio que eles poderiam mudar de ideia." Aprende-os-Velhos-Costumes lançou um olhar horrorizado ao jogador, mas o homem continuou. "Ah, e veja bem, tudo que nossa gente se importa é que Virginia Dare desapareceu também, mas lembre-se, são os vencedores que escrevem a história. E então, tem os Uivadores Brancos. Eles foram para o outro lado há uns, bem, deve ter sido há uns nove ou dez séculos atrás, mas quem está contando? Eles se chamam Dançarinos da Espiral Negra agora, e reze para nunca encontrar um, garoto. Se você acha que nós somos assustadores, espere até encontrar um deles.

    "Não é como eu explicaria, mas é mais ou menos verdade." O Peregrino Silencioso suspirou pesadamente. "Nós estamos longe de sermos perfeitos. Gaia sabe como eu tenho que me lembrar disso toda noite. Mas em todo caso, essas são as Tribos. Cada Tribo tem um tipo particular de humanos - ou lobos - que se associa. Isso mesmo, garoto, nós viemos dos dois lados. Precisamos misturar o sangue humano com o lupino, senão as coisas ficam meio estagnadas."

    "Agora, veja bem, nem todo mundo tem o jeito. O Stone ali atrás, bem, ele tem a linhagem, mas a lua nunca se inclinou e beijou ele do jeito certo. Então ele é o que nós chamamos de Parentes, que nem seus pais. Nós protegemos nossos Parentes, trabalhamos com eles, temos famílias com eles, e mesmo que o Stone não venha a fazer a mudança, bem, talvez um de seus filhos o faça."

    "Mas é claro, nós meio que temos que manter famílias com lobos ou humanos - não torça o nariz para os lobos, filhos. Se você estiver correndo em quatro patas na época certa do ano, vai achar o conceito bem atraente. Não acredita em mim? Vai acreditar. Mas onde eu estava?"

    "Parentes", a dançarina o ajudou com um sorriso, "E aquela conversa delicada que o pai do garoto devia ter tido com ele há anos atrás."

    "Ora, obrigado, Janice." A dançarina corou e o homem da lei sorriu. "Nós temos que procurar fora da matilha por companheiros, porque você simplesmente não pode procurar dentro. Se um Garou quiser se enroscar com outro, é problema, problema do pior tipo possível. As crianças nascem todas tortas e estéreis; chamamos eles de Impuros. E já que ser cruel com um filhote é basicamente a pior coisa que você pode fazer, a vida não é muito fácil para os pais do filhote deformado, também. Então, se você tinha quaisquer planos de salvar Aprende-os-Velhos-Costumes do jogador de pôquer malvado e cavalgar em direção ao por-do-sol com ela, pode esquecer." O garoto corou de uma maneira que disse ao Peregrino que ele havia acertado o alvo.

    "Mas por que?" O rosto do garoto ainda estava mais vermelho do que o de Moon, embora a vermelhidão começasse a sumir. "Digo, se você quer criar os melhores cavalos, você procria os melhores com os melhores. Se quer ter os melhores guerreiros, por que não, err, ummm..." Ele ficou em silêncio e corou novamente.

    "Porque é assim que se faz, e esse é o único motivo, garoto. Não tem outro jeito de dizer. E essa é outra lição importante da nossa espécie: você obedece as regras, não importa o quão estranhas elas pareçam. São regras, afinal, e essa é parte do preço que você tem que pagar. Veja bem, temos todas as regras escritas numa coisa chamada a Litania, o que você vai aprender. É uma música, na verdade, mas alguém inventou de escrevê-la nesses dias, o que torna mais fácil para filhotes novos como você."

    "Enfim, as regras básicas são as seguintes: Garou Não Acasalará com Garou, que eu acabei de te falar; Combaterás a Wyrm Onde Quer Que Ela Esteja e Onde Quer Que Procrie, o que pra mim é puro bom senso -"

    Um ronco alto e teatral de Aaron interrompeu a aula do Peregrino que nem uma serra enferrujada em aço. O Pinkerton parou abruptamente e o encarou, mas o jogador se manteve resolutamente impassível.

    "Se não se importa, Aaron?"

    "Diabos, claro que não me importo. Só estou com medo de que você vá matar o filhote perdido aqui de tédio. Você acha mesmo que ele vai lembrar a Litania inteira, ou só gosta do som da sua própria voz, Peregrino Silencioso?
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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Ervin Palavra Austera Qua 29 Out 2014 - 8:12

    Passaram-se alguns segundos que pareceram uma eternidade silenciosa quando os dois se encararam, e então o Pinkerton de repente desviou o olhar. "Acho que está certo, Aaron. Estamos dando um pouco demais pro garoto. Ainda assim, se importa se eu terminar isso direito?"

    "De forma alguma." Caminha-com-Aço era magnânimo na vitória.

    "Ora, muito obrigado. Enfim, tem toda uma lista de regras pra Litania. A última, e provavelmente a mais importante, é essa: Não Tomarás Ação Que Cause a Violação de um Caern. Essa deve ser a mais difícil de explicar. Caerns são lugares sagrados, pontos onde a gente consegue ficar mais em contato com Gaia. Na verdade, o Stone construiu esse lugar em cima de um. Costumava ser protegido por um bando de Puros, mas quando chegamos, Stone assumiu." Ouviu-se uma respiração ofegante do outro lado da mesa. "Esse é o verdadeiro motivo dessa cidade de um cavalo receber tantos ataques de índios. Não são os Comanche que vêm aqui, são os Wendigo, e eles querem seu caern de volta."

    Aprende-os-Velhos-Costumes cuspiu uma obscenidade. "Vocês roubaram este caern? Como se atrevem!"

    O Peregrino Silencioso deu de ombros. "Era ou nós ou o pessoal da ferrovia, e achamos que os nativos não iriam querer trilhos de ferro em cima do lugar. Isso teria acabado com ele direitinho. Então Stoney, eu e mais uns outros, bem, nós nos infiltramos num acampamento da ferrovia numa noite e brincamos um pouquinho com os mapas de rotas deles. Quando eles se deram conta que tinham construído mais de 30 quilômetros na direção errada, nós já tínhamos começado a construir a cidade, pra garantir que eles não pudessem voltar pra cá. Além disso, se tomamos o caern, é porque eles não tavam mantendo ele muito bem."

    "Qual o seu nome, Peregrino?" A voz da dançarina era gélida.

    "Tenho um monte deles. Qual você quer?"

    "O que você quer na sua lápide, seu desgraçado."

    "Bem, o nome de nascimento é Lukas, mas o que eu ganhei é Corre-de-Seus-Erros."

    "Desse você não vai correr."

    "Provavelmente não," o Peregrino concordou. "Porém, dá pra esperar até acabarmos pra você matar o Stoney e a mim? Não importa o que ache de nós, temos que levar em consideração o garoto, e até onde eu sei, o Stoney precisa de um tempo pra ver a disposição de sua propriedade, tudo legalizado."

    Antes que Aprende-os-Velhos-Costumes pudesse responder, um vendo uivante soprou pela rua fora do Stone's. Todos os Garou estava instantaneamente de pé, olhando para a porta. Lá fora, os cavalos relincharam em pânico, com os olhos selvagens. "Tem uma risada nesse vento." Aaron resmungou, e ninguém o contradisse.

    "Devem ser Malditos andando nele," disse Moon. Os outros homens concordaram com a cabeça, mas Aprende-os-Velhos-Costumes sacudiu a cabeça. "Não", ela disse suavemente, "não sinto cheiro de mácula," mesmo quando o assobio do vento se ergueu até um tom febril. Porém, nenhum dos outros a ouviu, porque uma dúzia de pequenos redemoinhos de poeira giraram na rua. E, de repente, acabou. A poeira se assentou no chão, enquanto a risada se perdeu na distância.

    "Hm. Sei lá o que foi isso." A confusão de Moon era quase cômica. Lentamente, eles voltaram aos seus assentos. "Mais tarde," a dançarina prometeu, e o ex-homem da lei simplesmente concordou.

    "Então, onde estávamos?" Disse Corre-de-Seus-Erros, "Tribos, Litania..."

    "Você ia falar de raças, eu acho," respondeu o jogador. "Passarinhos e abelhas e de onde vêm os impuros." O garoto corou e Lukas fechou a cara.

    Verdade, é onde estávamos. Olha, a parte das raças é fácil. Sua raça é a pele com a qual você nasceu. Você nasce humano, então é hominídeo. Nasce lobo, que nem eu acho que Aprende-os-Velhos-Costumes nasceu, você é lupino. Se seu pai e sua mãe são Garou, você é impuro. É bem simples. Veja bem, sua raça não te impede de trocar sua pele e confraternizar com os outros. É só meio que seu ponto de partida. Olha, me disseram que sua raça tende a influenciar sua perspectiva em algumas coisas, mas já que eu nunca tive outra perspectiva além da minha, não sei se isso é verdade."

    "É verdade," cortou a lupina. Lukas tirou seu chapéu pra ela.

    "Então estou corrigido. Enfim, acho que já falei demais, e já testei demais a paciência dessa boa gente. Por que não assume, Aaron? Compartilha suas ideias com o garoto."

    "Não tenho a menor vontade de assumir," Disse Aaron enquanto se desdobrava, "já que eu não tenho nenhum amor em particular em ouvir minha própria voz. Mas, vendo a besteira que vocês estão fazendo, pode ser que eu eduque o garoto um pouquinho. Afinal, vocês dois," e ele apontou um dedo longo e fino para Moon e Lukas num jeito de professor, "estão deixando passar todas as coisas importantes."

    [Recorte de Jornal]

    LINHA ATCHESON-TOPEKA VANDALIZADA!

    Tragédia mal foi evitada.

    Um acidente horrível quase aconteceu nesta tarde, quando o trem de 5:23 para Topeka quase descarrilhou próximo a Springfield. O trem, que carregava vários vagões Pullman cheios de passageiros, correio e outras cargas conseguiu parar logo na hora em que soou um alarme indicando que os trilhos à frente do trem haviam sido arrancados. Os esforços heróicos do maquinista Devin P. Rosewald de Skokie, Illinois, em evitar a catástrofe não podem passar em branco. Foi ele quem conseguiu frear o trem poucos centímetros antes do limpa-trilhos encostar nos trilhos retorcidos. Passageiros relataram que Rosewald freou com tanta força que as rodas chegaram a brilhar de calor. Outras fontes dizem que o limpa-trilhos e a fornalha também brilharam, embora este relato tenha sido descartado como mera fantasia.

    O acidente foi visto por um carvoeiro, Lukas Atkins, um mulato que havia acabado de ser contratado pela ferrovia há alguns dias. Atkins alertou a Rosewald, que começou a salvar o trem e todo mundo a bordo. Embora Rosewald pudesse esperar ser recompensado por seu papel em salvar o trem, nenhum sinal de Atkins foi visto, já que ele aparentemente deixou seu emprego algum tempo imediatamente após o quase-acidente.

    Autoridades especulam que um bando errante de Sioux possa ter sido responsável por arrancar os trilhos, que haviam sido retorcidos e rasgados por uma distância impressionante de 9 metros. Além disso, os suportes foram retirados do caminho da ferrovia, deixando apenas cascalho e aço retorcido.
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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Alaster Branor Sex 19 Dez 2014 - 10:52

    O conto termima assim?

    O que acontece com o filhote e o caern roubado dos puros?
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    Mensagem por Ervin Palavra Austera Sex 19 Dez 2014 - 11:26

    Não, não! Acabei me atolando de algumas coisas e não deu pra terminar. Mas já que há interesse, vou voltar ao projeto!
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    Mensagem por Ervin Palavra Austera Ter 23 Dez 2014 - 1:24

    O CONTO DO JOGADOR

    "Agora, a primeira coisa que os outros se esqueceram de mencionar, garoto (e teremos que arrumar algo melhor do que isso, eu receio) é o que é um augúrio. Agora, ao passo em que aquelas velhas histórias estão erradas e nós não mudamos de forma quando a lua está cheia - o que, eu posso afirmar, seria extremamente inconveniente - nós ainda temos um elo poderoso com a lua. Sabe, a fase da lua sob a qual você nasceu determina o seu augúrio, uma espécie de combinação entre sua personalidade e sua profissão dentre os Garou. Pense nisso como um horóscopo com uma diferença importante: é de verdade.

    Ora, eu nasci sob uma lua nova, o que faz de mim um Ragabash. ("Nunca teria adivinhado", resmungou Moon.) Nós os Ragabash somos os trapaceiros dos Garou. Nosso trabalho é fazer com que o resto deles não fique se levando a sério demais. E deixa eu te falar, às vezes é um senhor trabalho.

    "Ser Ragabash também é a desculpa que ele usa para trapacear nas cartas," disse Lukas. Enquanto Aaron gaguejava, o Peregrino Silencioso se virou para os outros e piscou. "Lança-cartas movido por mola, manga direita. Ouvi ele bater na mesa quando todos nós nos levantamos antes. Ah, não tem problema, pode parar de gaguejar, Aaron. Já que você estava planejando devolver tudo mesmo, ninguém vai ter que pedir, né? Continue onde estava, antes que o garoto fique velho o suficiente para ter uma barba."

    Com um ar de dignidade ferida que era quase felino, o jogador cruzou suas mãos em cima da mesa. "Muito bem, diretor Lukas, posso continuar minha aula?" Quando o Peregrino acenou com a cabeça, um sorriso sem alegria tomou posse do rosto de Aaron. "Muito bem. Agora, também existem outros augúrios. Theurges são aqueles nascidos sob a lua crescente. Eles são os videntes e loucos - e loucas - dos Garou. São eles quem falam com espíritos e às vezes até escutam eles e, julgando pela cor da compleição do Lukas, acho que acabei de adivinhar o augúrio dele.

    Depois tem os meia-lua, os Philodox. Eles são os pacificadores dos Garou, o que significa que eles só estão atrás dos Ragabash no número de quantas pessoas odeiam eles. Veja bem, isso é porque somos um povo que discute muito, e nós não gostamos de meio-termos. Eu diria que é porque se parece demais com rendição.

    E então temos os Galliards, os dançarinos da lua gorda. Eles são os cantores, artistas e, mais importante, os guardiões do conhecimento. São eles quem mantém os Registros Prateados, a história de tudo que nós já fizemos ou fomos. Eles também sabem das histórias que não entram para os Registros, e por isso que a ameaça da Janice mais cedo de me envergonhar na próxima assembleia. Ser humilhado na frente de todos os Garou da vizinhança é de fato uma ameaça muito potente.

    E antes que você pergunte, uma assembleia é uma reunião de Garous que seus pais provavelmente descreveriam como "rituais nativos primitivos" ou algo do tipo. Elas não são isso, é claro, mas tente explicar algo para um humano e você não chega a lugar nenhum. O que? Não tente defender eles. Aliás, não fale. Você está aqui para ouvir.

    "E por último, mas não menos, temos os Ahroun, os bullies, os guerreiros, signo da lua cheia e todos cheios de si; eles vão matar algo assim que souberem seu nome." Aaron se virou para o soldado, que o ouvia com um interesse macabro. "Então, Yankee, você é Ahroun? Foi isso que te fez passar pela Guerra da Agressão Nortista?"

    "Na verdade", Moon resmungou, "não. Sou Philodox, mas acabei nas fileiras mesmo assim. Porém, foi na guerra onde eu consegui esse mancar; era de se esperar que um soldado de cavalaria conseguisse evitar isso."

    O jogador deu um ronco de desprezo. "Isso eu já percebi, obrigado. Só estou tentando descobrir como poderia ter acontecido."

    Bem simples, na verdade. Minha brigada estava numa expedição de forrageamento [em busca de alimentos e forragem para cavalos] e chegamos à uma fazenda na qual os habitantes não se sentiam inclinados a serem forrageados. Veja bem, eles não tinham chumbo para as balas, mas eram gente criativa, e derreteram a prataria da casa para fazer balas.

    "Aha! Tiro de prata na coxa, não?" O Soldado concordou enquanto Aaron se virou para o garoto. "Isso é mais uma coisa que Lukas se esqueceu de mencionar. Podemos nos curar de quase qualquer ferimento, se tivermos tempo e energia o suficiente, mas prata - aahhh, prata faz umas coisas desagradáveis conosco. Fique bem, bem longe dela se puder, o que, julgando pelo pouco que conheço de você, duvido que conseguirá."

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    Mensagem por Mandíbula Ter 6 Jan 2015 - 1:40

    "Curar qualquer ferimento? Isso é incrível!" O rosto do garoto era um estudo em descrença.

    "Não qualquer ferimento, garoto. Se eu rasgar sua garganta, você não vai se curar antes de se afogar no próprio sangue. Por outro lado, eu já tive a honra peculiar de ter sido alvejado por 14 vezes num único dia, e não tenho nem mesmo uma cicatriz para provar isso."

    "Quatorze vezes? Ninguém conseguiria sobreviver a isso. Você deve estar mentindo."

    O tom de voz negociador do jogador desapareceu, sendo substituído por um monótono controlado e vingativo. "Tenha muito cuidado com quem você chama de mentiroso sem provas, garoto. É uma ótima maneira de ficar bem morto. E sim, eu fui alvejado 14 vezes num único dia. As circunstâncias eram simples: havia um vagão Pullman cheio de homens que me queriam morto, e que planejavam me matar assim que houvessem se afastado o suficiente da estação. Eu tomei ciência disso e procurei argumentar com eles sobre como este plano não era recomendável. Eles sacaram suas armas e eu os matei."

    "Os matou?"

    "Cada um deles, e só com as mãos. Veja bem, eu tive que desconectar o Pullman do resto do trem, tombar ele dos trilhos e incendiá-lo para esconder as evidências, mas eu posso lhe dar o nome da linha, da companhia, do trem e de cada um dos homens que estavam naquele vagão - se estiver duvidando de minha palavra."

    O garoto olhou para cima sobriamente. "Não senhor", foi tudo que ele disse.

    De repente, Anda-com-Aço se sentou rigidamente. "Espere um minuto. Ragabash, Philodox, Galliard, Theurge - inferno e maldição, garoto, sob qual lua você nasceu? Não, você estava ocupado demais nascendo para reparar. Quando é seu aniversário?" Conforme o garoto gaguejou uma data, Aaron se virou para o barman. "Stoney, pegue seu almanaque. Me diga sob qual signo o garoto nasceu e eu aposto minha conta inteira que foi na lua cheia."

    "Não aposto", disse o barman conforme folheava um almanaque cheio de orelhas. "Não posso perder tanto dinheiro assim." Houve silêncio por um minuto, e então o som pesado do livro batendo no balcão. "Está certo, Aaron, lua cheia. O que diabos tem de errado com você?"

    A última frase havia sido dita num tom de meia preocupação e meia raiva, pois o Ragabash estava se dobrando num surto convulsivo de gargalhadas. "Ah, mas isso é simplesmente demais. Me leve pra casa e me chame de mascate, mas isso é tudo armação!"

    "O que é?" perguntou Moon, franzindo a testa.

    "Ora, toda essa coisa, esse jogo, esse encontro, tudo. O garoto é o nosso Ahroun, não entende? Gaia, em sua infinita sabedoria, desceu Sua mão, achou os cinco Garou menos compatíveis em toda a fronteira e decidiu fazer uma matilha de nós. E com o Ahroun mais magrelo que o mundo já viu! É impagável!"

    "Não tenho tanta certeza sobre isso," interrompeu Aprende-os-Velhos-Costumes. "Ainda tem muito chão pra correr antes que eu me junte a uma matilha com o Lukas aqui nela. Mas isso não vem ao caso; ainda tem muita coisa para contar ao garoto antes do por do sol.

    [Recorte de jornal]

    GRANT E LEE MANOBRAM POR POSIÇÃO

    Foi um dia quieto no norte da Virginia enquanto os generais no comando simplesmente manobraram em busca de uma posição. Pouco combate real foi travado, e somente chegaram relatórios de uma escaramuça de cavalaria próxima a uma residência privada. Aparentemente, tropas confederadas haviam se refugiado numa casa-grande e abriram fogo contra tropas federais que estavam numa missão de reconhecimento. Não há notícias sobre as baixas confederadas.

    Lista de Baixas

    Mortos: Cabo Paul Chaney, Soldado Chadwick McKee, Soldado Michael o'Conner.

    Feridos: Coronel Jonas Moon, Capitão Elmer P. Wylie.
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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Chapeleiro Seg 2 Mar 2015 - 21:12

    A HISTÓRIA DA DANÇARINA

    "O que acontece no por do sol?" O garoto perguntou. "Nós nos... transformamos... ou o que quer que seja?" Com alguma satisfação, Aprende-os-Velhos-Costumes notou que o garoto parecia ter recuperado sua compostura. Na verdade, ele estava lidando bem com a história toda; talvez até houvesse alguma esperança para ele.

    "Não. Eu tenho um encontro com algumas pessoas no por do sol. Mas quanto ao outro assunto, bem, não, nós mais ou menos controlamos quando nos transformamos. Cada um de nós tem cinco formas, e você pode escolher qual quer usar. Veja bem, cada uma tem seus altos e baixos, e é melhor deixarmos suas roupas e coisas dedicadas a você."

    "O que acontece se não fizermos isso?"

    "Bem, então da próxima vez em que se transformar você vai rasgar todas as suas roupas, e quando se transformar de volta, vai se encontrar nu em pelo e congelando suas partes privadas. E as roupas aqui são caras também - não é bom ficar substituindo elas toda hora." O garoto ficou vermelho como um tomate de novo, provavelmente ao pensar em Aprende-os-Velhos-Costumes o vendo nu. Ela suspirou. As chances eram de que a modéstia do garoto não duraria muito por aqui. "Mas as roupas não são o assunto", ela continuou. "As formas são. Você já conhece Hominídeo e Lupino - humano e lobo -, eu acho. As que estão entre elas são feitas basicamente para lutar, mas a forma de guerra real é Crinos. 2 metros e meio de altura e a sutileza de uma debandada - garoto, você só deve assumir a forma de Crinos quando tiver que matar alguém ou alguma coisa. As mentes dos humanos normais não são fortes o bastante para digerir a ideia de que há gente como nós lá fora. Então se um humano vê um bicho desse tipo, sua mente só diz a ele que está vendo algo diferente. Ele pode se lembrar de ver um hombre grande, mas não um lobisomem."

    "Então é isso?" o garoto perguntou. "Isso é tudo? Sair por aí e achar coisas da Wyrm, ou o que quer que sejam, e bater nelas?"

    Aprende-os-Velhos-Costumes riu. "Dificilmente. Você não aprendeu nada sobre espíritos ou totens ou a Umbra. A primeira coisa que tem que entender é que tudo tem um espírito. Árvores, pedras, animais, emoções - todos eles têm espíritos. Se jogar suas cartas direito, você pode falar com esses espíritos, talvez aprender alguma coisa com eles, talvez conseguir que eles te ajudem. Se você tiver muita sorte, pode conseguir convencer um a morar num objeto por um tempo: nós chamamos isso de fetiche, e é algo muito poderoso de se ter. Não espere por suas patas em um por anos, garoto - mas é importante que saiba que eles estão por aí, então quando ver um xamã Oglala lançar raios com um pedaço de pau, você já sabe o que está acontecendo."

    "Agora, alguns espíritos têm mais afinidade conosco do que outros, e alguns mais poder do que outros. Existem alguns que têm um interesse especial por nós, e nos ajudam de tempos em tempos. Estes espíritos são os nossos totens, e cada matilha é adotada por um.

    Isso não quer dizer que os espíritos fazem tudo isso por bondade de coração. Você tem que barganhar com eles, e ninguém sabe o que eles vão querer. Uma pedra colorida, uma canção de guerra - pode ser qualquer coisa. Espíritos podem não ser muito espertos, mas eles são o suficiente quando chega a hora de negociar."
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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Bruin Ombros da Montanha Qua 4 Mar 2015 - 18:57

    "Outra parte do pacote são os Dons. Você ganha Dons pelo seu Augúrio, ganha Dons pela sua raça, por sua Tribo e volta e meia eu acho que pela cor do seu cabelo. Os totens te dão ajuda, mas você ganha seus Dons acima de tudo por quem você é, e começa a ganhar eles com seu Rito de Passagem."

    "Bom, isso é ótimo", disse o garoto, "mas está faltando uma coisa nisso tudo. O que são Dons?"

    "Dons são magia, mais ou menos." disse Aprende os Velhos Costumes. "Maneiras especiais de fazer coisas como purificar a água ou falar com espíritos ou acalmar tempestades ou assobiar com o vento. Dependendo de quem você for - não - mais do que você for, você tem certos talentos para fazer as coisas. Os Dons que lhes são oferecidos, eu suspeito, terão a ver com guerra e luta. Tudo faz parte de ser um Ahroun."

    "Mas isso é uma maravilha de se saber," disse o garoto amargamente. "Tem algum jeito de saber o que são esses Dons ou eu vou ter que esperar até o Natal?"

    "Você simplesmente vai saber, garoto. É tudo que posso te dizer. Chegará uma hora onde você precisará saber como fazer algo, algo que seu cérebro diz ser impossível, e de alguma forma você simplesmente achará um professor que lhe dará exatamente o que precisa. Foi o que aconteceu comigo: Eu estava perdida e quase morta de sede quando conheci o Avô Joseph. Ele tinha um cantil cheio, mas não me ofereceria nada até eu aprender com ele como chamar pelas águas eu mesma." Ela sorriu ao relembrar a memória. "Me levou quase que a droga de um dia inteiro, e eu quase morri antes de acertar. E o velho desgraçado me ofereceu um gole? Nenhum. Mas que Gaia o abençoe por ter me ensinado."

    "Acho que entendi." O cenho do garoto se franziu. "Não significa que eu tenho que gostar, não?"

    "Não mesmo." Aprende-os-Velhos-Costumes lhe assegurou. "É que nem remédio. Agora, para sua última lição: a Umbra. Assim como este é o mundo real, existe um mundo espiritual. Na verdade, existem mundos espirituais, mas aquele com o qual lidamos chamamos de Umbra. É onde os espíritos vivem, e parece muito com, bem, parece muito com como esse lugar deveria se parecer. Digo, se um lugar foi maculado por ódio ou medo, na Umbra ele parece vil e acabado. Se um lugar foi controlado e domado, haverão espíritos da Weaver por toda a Umbra. A maioria se parece com aranhas, e haverão teias por toda parte.

    E se um lugar é um caern, bem, na Umbra ele brilha. Nós chamamos de ir à Umbra de "percorrer atalhos", o que é um nome tão bom quanto qualquer outro. Isso economiza tempo de viagem, mas não é fácil e pode ser perigoso. Isso, dentre outras razões, é porque eu tenho um cavalo." Ela sorriu pesarosamente; "Não é um sentimento natural, mas evita perguntas."

    "De novo, ela não está te contando a história inteira, filho." Moon interrompeu com uma expressão preocupada no rosto. "Ela está te falando na Umbra na Costa Leste e no Velho Mundo. Por aqui, bem, a Umbra é diferente, mais feroz. É como se houvesse uma tempestade lá, e isso me diz que que há uma tempestade pronta para estourar no mundo material também."

    Aprende-os-Velhos-Costumes estava com um olhar azedo no rosto. "Concordo. Tem alguma coisa acordando por aqui, e o fato de que maculou a Umbra em primeiro lugar nos diz de onde está vindo." Aaron ergueu uma sobrancelha cética quanto a isso, e ela o encarou. "Sim, diz. Tem um espírito acordando em algum lugar, um dos grandes. É o que tudo isso significa. Eu só queria saber o que, ou onde ou qualquer coisa." Ela bateu seu punho na mesa, mas o som foi abafado pelo feltro verde. Envergonhada, a companhia toda ficou em silêncio por um momento. Na distância, rugia um som de algo que poderia ser um trovão, ou poderia ser um trem.

    "Algo mais?" perguntou Lukas. "Porque parece que o dia está ficando cansado, e eu tô com uma sensação estranha de que devíamos ir embora quando o sol se por. Alguém procurando por companhia na trilha hoje?"

    "Vamos cavalgar por um tempo pra ver o que acontece. Eu estou firmemente convencido de que estamos sendo postos juntos por um motivo, e todo bom jogador de cartas sabe que o Destino é algo com que não se discute." Aaron já estava a meio caminho para fora do bar, com uma pilha de dinheiro na mesa atrás dele. "Para a minha conta, Stone. Guarde o troco para a próxima vez." Atrás dele, Moon estava mancando em direção ao bebedouro dos cavalos.

    "Aprende-os-Velhos-Costumes? Seria uma pena me matar aqui e estragar o lugar do Stone." O sorriso travesso do Peregrino era conquistador, e a Galliard se viu amolecendo um pouquinho, apesar do que sentia.

    "Até a curva da trilha. Gaia decide após isso." E com isso ela tinha saído da porta, deixando apenas Stone, o Peregrino e o garoto.

    "E então, garoto, você vem?" Lukas falou mansamente. O garoto fez que sim com a cabeça, hesitando, como se não pudesse acreditar que alguém quisesse sua companhia. "Bom. Você é o centro dessa coisa toda, afinal. Aliás, você tem um nome? Ficar te chamando de "garoto" vai ficar cansativo bem rápido."

    "Arthur," o garoto disse. "Me chame de Arthur."

    "Arthur de quê?"

    "Apenas Arthur. Ainda não conquistei nenhum outro nome."

    Lukas lhe deu um tapa nas costas. "Justo. Vamos, Arthur, vamos cair fora daqui antes que o Stoney fique cheio de nossas fuças. Até mais, Stone."
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    Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse. Empty Re: Conto introdutório para Lobisomem: o Apocalipse.

    Mensagem por Bruin Ombros da Montanha Qua 11 Mar 2015 - 1:38

    DEPOIS QUE O SOM DOS CASCOS DE CAVALO SUMIU NA DISTÂNCIA, STONE CUIDADOSAMENTE DEIXOU SEU PANO NO BALCÃO

    "Boa sorte", disse o barman, silenciosamente, depois que eles foram embora.

    Exceto pelo ronco de serrote no andar de cima, a cidade inteira estava quieta, e o brilho vermelho do por do sol transformava o balcão num poço de sangue brilhante. Sem qualquer cerimônia, Stone subiu as escadas e bateu na primeira porta à direita. "Entre, Stone," veio a resposta abafada.

    Stone abriu a porta, que rangia. Havia um índio lá dentro, vestido como um Sioux Pé-Preto, e ele estava com seu rosto pressionado na janela. O homem tinha cerca de 60 anos de idade, com o rosto enrugado e cabelo prateado. Ele usava roupas de pele de cervo, e um rifle que mostrava sinais de uso extenso estava apoiado na lateral de sua cama. Na mesa próxima à cama havia um lampião e uma pequena bolsa de couro, amarrada sete vezes com um fio de couro de búfalo.

    "Belo trabalho com o vento lá, Avô. Eu agradeço que você tenha impedido eles de se matarem no meu estabelecimento." O homem simplesmente acenou com a cabeça e continuou a observar a nuvem de poeira que desaparecia no horizonte. "E então, o que achou?" Stone continuou. "Eles vão servir?"

    O xamã franziu a testa. "Não tenho certeza. Muita coisa que o garoto aprendeu estava maculado, e eu espero que isso não seja um obstáculo para ele hoje a noite quando Aprende-os-Velhos-Costumes o levar para conhecer meus irmãos e irmãs. Queria que ela tivesse falado mais, e mais cedo."

    "Eu estou mais preocupado com Anda-Com-Aço. Ele não costuma pensar primeiro. Além disso, eu ouvi dizer que Moon tem uma bela reputação como caçador de índios, e eu duvido que isso trará uma boa impressão."

    "Ele é um guerreiro, e não um bruto, e isso conta muita coisa. Mas no final das contas, os destinos deles estão em suas próprias mãos, e nas dos Grandes Espíritos."

    Stone franziu o cenho, não tão satisfeito. "Se não se importa que eu pergunte, Joseph, por que está fazendo isso? Por que vir até aqui para ajeitar isso, e por que precisa de cinco Garou do Velho Mundo para fazer isso? Me parece que o seu próprio pessoal faria isso bem melhor, e com menos discussões."

    Joseph Pena-de-Gralha franziu a testa. "Se um dos meus fizer o que precisa ser feito, os outros, eles dirão "É só um índio doido", e enfrentarão a mim e aos meus. Eles o farão por reflexo. Por ignorância. Eles dirão, "Se o índio está fazendo, temos que parar", e quando a luta terminar, já será tarde demais.

    "Mas, se eu puder treinar os seus para fazer isso para mim, então quando os outros os verem, eles dirão "Aqueles são dos nossos arrancando os trilhos de trem. Aqueles são os nossos afastando o gato dos caerns profanados. Eles devem ter uma razão para fazer isso." E perguntarão aos Garou do Velho Mundo o porque de estarem fazendo essas coisas, e eles explicarão, e a mensagem irá se espalhar. E, se a mensagem se espalhar longe o bastante, talvez nós ainda consigamos aprisionar essa coisa, esse espírito que está despertando."

    "Eu não sei, Joseph. Parece uma pilha bem grande de esperança para se botar nos ombros de um garoto bem pequeno."

    "Num sonho, Coiote me contou de sua chegada, e seu destino. Quaisquer outras coisas que ele possa ser, Coiote não é um mentiroso, e Aprende-os-Velhos-Costumes é bem sábia, para um dos seus. Ela ainda pode ensinar um pouco desta sabedoria para ele. Coiote me disse que haveria um preço a pagar, e quem o pagaria. Mas Coiote também me disse que o preço vale a pena ser pago." Lentamente, o velho se deitou na cama e fechou seus olhos. "No fim, eles terão de servir."

    Silenciosamente, Stone se virou para sair. Na porta, ele parou e olhou para trás. "Avô Joseph? Não quero me meter, mas você algum dia vai contar para eles o que está acontecendo? Vai mostrar a eles o que têm que fazer?"

    A voz do velho saiu das sombras que se reuniam no quarto. "Hoje não. Talvez amanhã eles estejam prontos para ouvirem a verdade."

    "Mas o senhor disse isso ontem!"

    "E amanhã, o hoje será o ontem. Pense nisso, Ezekiel Stone. Pense nisso." Depois disso, houve apenas silêncio, e o som distante do que o barman esperava fervorosamente que fosse o trovão.

    FIM

    [Recorte de jornal]

    ROUBO MISTERIOSO DE CAVALOS!

    Chegou à atenção deste repórter que 17 cidades, principalmente dentro das fronteiras do Colorado, foram vitimizadas por um ladrão mui incomum. O praticante destes roubos, que, segundo alguns relatos, levou cerca de 130 cavalos, notavelmente não usa armas de fogo, tampouco métodos mais esotéricos de furto. Ao invés disso, se pudermos acreditar nas testemunhas, e este repórter certamente não vê motivo para duvidar delas, o misterioro ladrão simplesmente assobia para os cavalos que deseja roubar. Os cavalos, então, se conseguirem, galopam na direção do salafrário que lhes ordenou a fazer assim.

    Obviamente, alguns dos relatos foram lúdicros nos detalhes que as testemunhas supostamente sóbrias adicionaram. Um homem, um Sr. Lee Johnston, vindo dos Territórios a Noroeste, jurou haver visto rédeas se desamarrando sozinhas, libertando cavalos que estavam firmemente presos. Outros compararam os roubos misteriosos ou às histórias de São Francisco de Assis ou às obras do diabo ou à bruxaria indígena. Porém, contanto que o ladrão permaneça foragido, toda especulação permanece sem fundamentos.

    Numa questão curiosa e relacionada, nenhum dos cavalos roubados foi encontrado à venda em qualquer lugar no Oeste até hoje, embora certas tribos nativas pareçam estar melhor montadas nesses dias do que há alguns anos atrás. "Tarvez o ladrão cumeu eles", foi o comentário do gregário Sr. Johnstone.

    [Recorte de jornal]

    LADRÃO DE CAVALOS ENFORCADO

    Onda de crimes misteriosos continua initerrupta

    Embora as autoridades de Jackson tenham enforcado o homem que afirmaram ser o responsável por uma série de roubos de cavalo incomuns, os roubos em si continuaram por muito tempo após o desaparecimento do corpo do homem enforcado. O ladrão, Joseph Pena-de-Gralha, de 58 anos, um índio dos Sioux Pé-Preto, foi pego em flagrante com vários cavalos desaparecidos fora de Jackson na noite do dia 13 de outubro. O xerife Dick Powell foi o responsável pela captura, mas o modesto xerife deu o crédito a um telegrama encaminhado ao seu escritório o alertando da presença do ladrão na área. O telégrafo foi, curiosamente, anônimo, mas veio da cidade de Omaha. Powell também confirmou que os cavalos estavam simplesmente de pé ao lado de Pena-de-Gralha enquanto o ladrão alegadamente assobiava algum tipo de música para eles. O cavalo do xerife, porém, ficou assustado pela presença do índio, e quase derrubou Powell duas vezes.

    Pena-de-Gralha foi enforcado em frente de testemunhas no dia 15 de outubro às 9 da manhã. Porém, um incêndio se iniciou na outra ponta de Jackson, e quando a população retornou após ter controlado as chamas, o corpo do enforcado já havia desaparecido. Além disso, durante as duas noites em que Pena-de-Gralha permaneceu na cadeia, um total de nove outros cavalos foram roubados de seus donos. Powell suspeita que Pena-de-Gralha tinha cúmplices, e jurou trazer os outros ladrões à Justiça.

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