Prelúdio Anthony Wolf - A cruzada do Lobo

Após a primeira fala, Anthony responde.

- Não esqueça, Capitão. Aos olhos de Deus, somos todos culpados.

Assim que ele sai, batendo a porta, o Garou se senta sobre a cama desarrumada e pensa consigo mesmo. O novo capitão é um cretino, e isso iria prejudicar muito ao longo da viagem.
Com o provável metamorfo sabendo de sua existência, Anthony não teria meios de permanecer a viagem toda em seu canto. O curso dos acontecimentos iria lhe arrastar, e sabia disso.

Wolf se lembra do recado do espírito. Se guiar por Luna. Os assassinatos possuem algum padrão envolvendo as fases da Lua? O Garou tenta verificar o ceu e se é possível avistá-la.

* Anthony se aproxima da escada, ouve a conversa entre ambos os homens sem maiores dificuldades. A primeira voz, sem dúvidas, pertence a Barrabás. A outra ainda lhe é desconhecida, mas é incômoda, sussurrante...

- Os preparativos foram realizados senhor, esperamos apenas seu comando.

- Aguarde até que a Lua se erga, verás meu sinal no céu. Sejas preciso, Barrabás, ou terás provado ser inútil.

- Sim senhor...não falharei.

* As sombras projetadas na escada diminuem e afastam-se, passos completam a descrição da cena de saída de ambos. O corredor continua vazio, sem uma vivalma, além do jovem Wolf.

Conforme a escuridão toma conta do lugar, o Garou passa a se guiar pelos seus sentidos, especialmente audição e olfato. A voz cortando o ar lhe indica que esta no lugar certo.

- Seu lacaio é muito mal educado, esperava uma recepção mais amigável após o presente em minha porta.

O Lobisomem olha para os ratos no chão.

De restos e sobras ao desespero de uma morte lenta, dolorosa e inevitável. Eles virão, de onde não se espera mas se precisa, imersos nas idas e vindas de nossa existência. Dos restos e sobras, da vida que levará à morte.

Com o pé, o Senhor das Sombras prende um dos ratos no chão, mas sem matá-lo.

- Existem aposentos melhores no navio. Acredito que não haveria objeção caso os quisesse.

* Das sombras, um rosto surge, alto, com idade avançada. Seus trajes são nobres e seu porte seria quase real, não fosse o absurdo cheiro de podridão emanado.

- Perdoe-me, nem todos os servos obedecem à risca as minhas ordens, e isto nos traz a conversa que teremos.

* Arrasta dois bancos de madeira, colocando um à frente do outro, acende uma espécie de candelabro colocando no chão, no meio de ambos. Em seguida, senta-se em dos bancos.

- Sente-se. Não são os melhores aposentos, mas não o privarei de uma conversa mais confortável.

* No peito do homem, Wolf consegue notar um pingente prateado, na forma da cabeça de um lobo.

Anthony chuta o roedor e se senta diante do homem, como convidado a fazer.

- De fato, servos andam deveras insubordinados.

O Garou não deixa de notar o pingente, e então retorna o olhar ao homem.

- Sabe quem sou, mas não posso dizer o mesmo. Seria interessante que se apresentasse. E me dissesse o que ocorrerá hoje a noite.

* Apoia os braços sobre os joelhos, e o queixo sobre as mãos.

- Claro, sou Sebastian Collins, Pesadelo Sombrio, o equivalente a um ancião de vocês entre os descendentes dos Uivadores Brancos.

* Encara o garou por alguns instantes.

- Hoje a noite acontecerá um ritual, e antes que me demonstre toda sua fúria e amor a gaia, que pouco importará em verdade, sugiro que me ouças, atenciosamente.

As palavras geram dois sentimentos em Anthony, simultâneos. O primeiro, o de asco. Diante dele estava um dos traídores, um dos que sucumbiram ao desequilíbrio da Ordem do Mundo. Uma aberração.

O outro, de apreensão. O ser se apresentara como um ancião. E a idade não negava. Wolf sabia não dispor de força ou condições de travar um combate. Não havia, no momento, o que ser feito.

- Estou ouvindo, Espiral.

Um Ritual? Se há um ritual a ser feito, então ainda há um ritual a ser impedido.

* Observa a calma do Garou, interessante, de fato.

- Sim, senhor Wolf. Um ritual.

- Vejas, os humanos são pragas e não há nada melhor para consumir uma do que outra, em maior escala. Não se sentes cansado após batalhar nas cruzadas, temer e sangrar por Gaia, lutar contra teus instintos primais de matar?

* Mantendo a postura, com o queixo encostado nas mãos, aproxima-se arqueando o corpo e falando sussurrando.

- Não sentes vontade de dominar a si mesmo e a todos?

* Volta a posição original.

- Ofereço-lhe um acordo, senhor Wolf. Mas deixe-me clarear os fatos antes que decidas.

- Estás no meu navio, no meio do oceano. Há outros dois servos meus neste local. Todos os preparativos para o ritual foram cumpridos. Não há, remotamente, esperanças.

- Então diga-mes, aceitas renegar Gaia, abraçar a Danação e ser parte de algo maior que apenas servir?

- Acalme-se, permitirei que vivas mesmo se me negar, por hora. Basta permanecer em seus aposentos esta noite e chegarás à Bristol, são e salvo. Caso contrário o fará em pedaços.

* Ergue a mão mostrando os últimos três dedos.

- Três situações, uma escolha.

O Garou respira fundo.

As palavras do Dançarino à sua frente não deixavam de, relativamente, possuir alguma verdade. Deturpada e compreendida de forma errônea, mas ainda sim, uma verdade.

- Senhor Collins...caso eu aceitasse a sua proposta de servir a Wyrm, como seria? Ainda sim não passaria de um escravo de uma força maior?

A mente do Garou permanecia a mil, tentando pensar em alguma alternativa. Desejava ansiosamente que recebesse algum sinal dos espíritos, alguma ajuda. Se o que o Espiral Negra está dizendo for verdade, aquele navio era uma arma direcionada ao coração de Gaia.

- O que eu ganho em me submeter à Profanadora?

Sorri, uma vez mais.

- Liberdade, Senhor Anthony, Liberdade.

- Vejas, não servirás, serás um Arauto da Dor e dono de seus próprios passos. Mas observe, enxergo através de suas palavras e profundamente em seu coração. Não tentes ganhar tempo.

* Inclina-se uma vez mais, ficando com o semblante fechado.

- Ofereço-lhe uma nova vida, ao invés da morte.

- Escolha.

O Garou percorre o chão com os olhos, pensativo. Em seguida os eleva ao Dançarino da Espiral Negra, decididos.

Ele já sabia o que fazer, e se esforçava para passar confiança. Olhando dentro dos olhos do ser a sua frente, ele diz, determinado.

- Eu aceito.

Em nenhum momento, desde o início da conversa, retirara a mão da bainha.

* Sorri.

- Perfeito. Aguarde um momento, sim?

* Mantém-se sentado, olhando fixamente para Anthony, embora seus pensamentos parecessem vagar.

*Após alguns minutos, adentra ao local arrastando uma criança pelos cabelos, amordaçada. Se tratava de um garoto, tinha por volta de 9 anos, cabelos escuros e chorava sem parar.

Em seus ombros, algumas peles grandes, sem dúvidas de animais com porte superior a dois metros.

- HAHAHA! Nem acredito que o mimadinho terá bolas para isso...

Jogou a criança ao chão, em seguida forrou um local com as peles caprichosamente, em seguida abriu uma espécie de cantil de couro e despejou um sangue escuro sobre o tapete de peles. Retirou um punhal da cintura e o estendeu para Anthony.

- A garganta, moleque, corte a garganta do guri e despeje o sangue sobre as peles.

Quando vê o serviçal entrar, o Garou pega com a mão esquerda o candelabro no chão e o ergue, de forma a iluminar e ver melhor.

Observa atentamente a preparação do ambiente por parte de Barrabás, e olha para o garoto. Filhote de humano. Tão frágil, tão indefeso, tão inferior.

Os sentidos de Wolf se mantém atentos. Ele busca com seu olfato e sua audição sentir tudo que ocorre no ambiente, inclusive outros servos do Dançarino da Espiral Negra. Ele se levanta, com cautela, e caminha rumo à vítima.

O mundo é assim. Sempre colocando questões complexas e difíceis. Nele, apenas duas coisas são certas: Você vive, e você morre.

Quando Barrabás estende a adaga, Anthony pela primeira vez retira as mãos da bainha e toca o cabo da arma oferecida...e numa estocada rapida, enfia a lâmina na garganta do "Capitão" a sua frente.

- Eu sou um nobre destinado a grandeza, e você não passa de um escravo. Quem tem "bolas" agora?

* A adaga corta seu pescoço com dificuldades devido a seu vigor, em ato reflexo, assume sua forma de batalha. Um esguio e monstruoso Crinos, com pêlos marrons manchados e diversas cicatrizes pelo corpo. A ferida fecha-se rapidamente.

Passa as grandes garras sobre o pescoço.

- Sorte a minha ser um punhal simples...HAHAHA!...

* Olha para seu mestre, Sebastian.

- Devo parti-lo em dois, meu senhor?

* Observa a cena, quase inexpressivo.

- Uma pena. Tinha grandes planos para você, senhor Wolf.

* Levanta-se do banco, seus olhos brilham de forma esverdeada. De suas mãos labaredas em chamas verdes surgem, as lança aos pés de Anthony, formando um círculo a seu redor de fogo esverdeado e preto, com cerca de dois metros e meio de altura.

Antes do fogo ser arremessado, Wolf tenta jogar o candelabro em suas mãos sobre a pele e o sangue estranho, esperando que de alguma forma incendiasse o objeto da Wyrm.

O Garou, agora encurralado, prossegue dizendo.

- Eu aceito. Aceito a vida e a liberdade, e não me oferece nada além da Morte e da Escravidão. Se há na mitologia humana uma analogia para sua Tribo, é a de Lúcifer, que caíra ao mais profundo Abismo.

Suas mãos recaem ao lado do corpo.

- Mas se quer ver morte e sangue, então deixe-me ter uma última batalha. Sem esses truques de fogo. Quero matar Barrabás com minhas próprias mãos. Ou será que ele mantém essa postura apenas por ter um Ancião protegendo-o?

O espírito de batalha do Ahroun se agita, ele nascera sobre a Lua do Guerreiro. Precisava ganhar tempo e simultaneamente se vingar de quem prometera a si mesmo matar.

* Cerra as presas e rosna.

- Sim mestre...deixe-me arrancar as tripas desse bastardo!...RRGGGRRRR

* Se mantém de pé, observando as chamas, dirige-se a Barrabás.

- Cale-se! Providencie os itens que faltam. Cuidarei para que nosso convidado não interfira.

* Senta-se novamente ao banco, por vezes olha o garoto, em seguida fala ao jovem Wolf.

- É por este amontoado de carne inútil que lutas, senhor Anthony? É por isto que darás sua vida?

Da risada da reação de Barrabás. Não passava de um velho rabugento. Ouve a indagação do lobisomem caído.

- Por que pensa que pode concluir minhas motivações de modo tão simplista, senhor Collins? Golpeei Barrabás porque ele me irritava.

O Garou, em seu íntimo, espera uma intervenção do plano espiritual. Se isso não ocorresse, estaria em apuros.

Olha o garoto, e depois para o Dançarino.

- Ele é apenas um humano. Não nos comovemos quando filhotes de cervos morrem, por que deveríamos por filhotes humanos?

*Com a mão coçando a barba abaixo dos lábios, o responde.

- Certamente, mas isso não me chateia. Fiquei realmente irritado pelo fato de ter incendiado as peles. Tens ideia do trabalho braçal e cansativo que foi arrancá-las de cinco garous vivos?

- Em todo caso, não mais terão utilidade. Vejas, ficarás aqui em minha companhia pelas próximas horas, então que tal conversarmos sobre suas motivações? Fale-me sobre elas.

* Olha fixamente por entre as chamas, que parecem avançar em direção à Wolf, para logo em seguida, retrocederem.

- Obviamente, não entenda como um convite. Passamos desta etapa.

- Entre humanos há os seus superiores naturais. Há os Plebeus, e há os Nobres. Até mesmo os lobos também possuem sua hierarquia. Aqueles destinados a mandar, aqueles a obedecer.

O Garou olha ao redor. Estar cercado pelas chamas o preocupava e, de certa forma, amedrontava. Mas o Dançarino já indicara que não iria matá-lo, ao menos por hora.

- Os Garou foram criados para governar sobre todas as demais raças. Os outros metamorfos, os humanos. Em todas as sociedades, são os Guerreiros que governam por direito. Por isso fizemos o Impergium. Nosso erro foi encerrá-lo.

Ele pensa consigo "Avô Trovão, me auxilie". "Corvo, onde está?"

- A Wyrm não é minha inimiga. Não mais do que a Weaver ou a Wyld. É quando há a quebra na Ordem, no Equilíbrio, que cabe a nós restaurá-lo. É necessário que todos saibam seu lugar no mundo.

* Em sua mente, Anthony ouve o bradar da Voz do patrono de sua tribo. O poderoso Avô Trovão, que despeja em suas palavras o peso e a força da mais poderosa tempestade.

- Filho!...Acompanho tua jornada, és sábio em ações e honra a tribo, por isso escute-me com atenção!

- Neste momento, um Incarna da corruptora circunda o navio, impossibilitando que meus Corvos voem em seu auxílio, estás no olho do furacão, em meio a uma estratégia voraz da corruptora. Uses minha benção e saibas tirar proveito da situação...haverá outros momentos para batalhas, não há desonra em sobreviver para lutar um outro dia.

- Lembre-se...Informação é Poder!

* Nas mãos de Anthony, um anel se materializa. Os ecos de sua mente desaparecem, assim como a confortante presença do Avô Trovão.

* Ouve as palavras do Garou, intrigado. Não haviam mentiras nelas, pois saberia notar por conta de seu Dom.

- Confesso que atraiu minha atenção, senhor Wolf. A favor do Impergium? Da dominação dos fortes sobre os fracos?...Oras, enfim temos crenças em comum.

* Levanta-se e caminha circulando as chamas.

- Então diga-me, com tais inclinações, por quais motivos se mantém servindo Gaia? Uma vez que as demais tribos, incluindo a sua, são absolutamente contra esses desejos...mesmo os Garras vermelhas, bestas sem cérebro, sabem que aniquilar a humanidade é ir contra os desejos de sua mamãe débil e fraca.

- Onde eu falei em aniquilar a humanidade, senhor Collins?

O Garou fecha a palma da mão, apertando o anel consigo. A presença de Avô Trovão lhe assegurou que está no caminho certo, e lhe deu forças para continuar. E indicara o caminho.

- Impergium não era o mero extermínio. Era preservação da ordem. Quando o lobo abate sua presa, ele não o faz pensando em extinção de todos da espécie abatida. Os humanos devem ser submissos a seus superiores naturais e, para isso, devem estar vivos. É uma pirâmide, onde aqueles que se sentam ao topo dominam todos os outros.

Ao ouvir as ofensas a Gaia, prossegue.

- Talvez o senhor não saiba o suficiente sobre a Nossa Mãe. Nem sobre minha Tribo, nem sobre os demais Garou.

O Garou disfarçadamente, coloca o anel no dedo anelar.

- Se os demais Garou entendem o mundo de forma equivocada, Gaia nada tem a ver com isso. Por que um Maldito deve ser destruído, mas um espírito da Wyld, em todo seu caos puro, não? Ou aqueles da Weaver, que fazem crescer as cidades humanas? Nascer, Crescer e Morrer. Amor e Ódio. Até mesmo os Mortos-Vivos possuem espaço na existência. Se não, por que existiriam?

O Garou dizia verdades. E sabia que com elas, manteria a atenção.

- Nós somos predadores, senhor Collins. Desejar a destruição do mundo é digno dos inimigos das religiões humanas, como o Diabo da Cristandade e do Islã. Caricaturas sem sentido. Para que, por exemplo, o senhor desejaria liberar uma praga contra os humanos? Exterminá-los nos traria o que? Por que um Senhor mataria seus próprios Servos?

Gargalha.

- HAHAHAHAHA! Que visão deturpada sobre os eventos e suas reais consequências. Equilíbrio senhor Wolf? Então diga-me, estabelecer o Impergium, matar humanos e os fazerem sucumbir a sua vontade pelo medo e pela força...em que isso difere de nossas intenções?

- Serei mais claro, a destruição é um fim. O fim. Acontecerá, e independe das suas ou das minhas ações. Como viveremos até lá é o que está em jogo.

- Tens motivações interessantes, porém tolas, senhor Wolf. A humanidade cresceu, espalhou-se, dominou o mundo. São centenas deles para cada metamorfo, talvez mais. É preciso exterminá-los, em sua maioria, para que o domínio que o senhor deseja se estabeleça.

- É um raciocínio simplório. Sua mãe, no entanto, acredita fielmente que deves proteger os seres viventes, incluindo os humanos.

- Sei mais do que supõe, senhor Anthony. Já servi Gaia, tempos atrás, sua Litânia me é clara. Confesso que sua interpretação dela me deixa curioso.

- Responda-me, como lida com o preceito de que não deverás provar da carne humana e que não deverás erguer o véu perante a humanidade com estas crenças? No fim, me parece mais inclinado à Wyrm do que eu mesmo fui um dia...senhor Wolf.

- Não provar carne humana se deve a sermos meio humanos. Canabalismo é barbárie, e somos mais civilizados do que selvagens e pagãos canibais. E quanto ao Veu...um predador deve informar sua presa de sua presença?

Ri com a incompreensão do Espiral.

- Um Rei não precisa devorar seus súditos para governá-los. Ele pode matá-los, enforcá-los, empalá-los. Mas não exige seus corações em uma bandeja para comê-los. Mais um vez, senhor Collins, tenta dividir o mundo em um bem representado em Gaia, e um mal absoluto na Wyrm.

Retorna ao tom de voz sério.

- Quando um predador encontra filhotes de outro de sua espécie, ele os mata. Se um urso encontrar uma criança humana, ele a devora. Os Humanos, filhos da Weaver, promovem guerras e massacres. E a Wyld? Quando um de seus espíritos devasta regiões inteiras gerando mortes, como explica?

- Não se esqueça, senhor Collins, até o Deus Bíblico, o mesmo que enviou o Cristo para Salvar o Povo, é o mesmo que se diz Senhor dos Exércitos e ordena matança de crianças e mulheres grávidas. Tenta aplicar a falsa moral dos homens sobre Gaia? Tenta me convencer que os Garou "amam" os humanos?

- Eu estive na guerra. Eu matei do meu próprio povo, e sei que eles me matariam se conseguissem. Não foi nenhuma disputa entre Gaia e Wyrm. Foi guerra por poder, por território. Todos nós lutamos por isso. Você diz que o faz em nome da descontrolada força da destruição, nós fazemos por Gaia. Cada um em frentes diferentes, mas disputando o poder.

- Mato por Gaia, mato pela glória de nossa Tribo. Não tente tornar a violência um monopólio da sua Mãe Sombria. A violência não tem mãe.

Respira fundo.

- A Wyrm nunca destruirá a Wyld e a Weaver. São as três pilares da Criação. Cedo ou tarde, outro mundo surgirá e todos seus atos serão em vãos.

O Garou ativa o anel.

* Se mostra interessado, embora risse durante alguns comentários.

- Coloca-se em um suposto grau de sabedoria, senhor Wolf, mas distorce as próprias leis de teu povo a seu bel prazer. Isto é ótimo...não tardará o dia em que abrirá os olhos e perceberás que sim, existem dois lados em uma moeda, e sim, escolherá um deles, consciente disso ou não.

- O mérito da carne humana é mais amplo, e sabes sem dúvida. A razão por trás da lei é proteger a humanidade de tuas garras e presas. No entanto, a lei do véu é ainda mais absurda e contraditória para tuas aspirações. Não dominarás, jamais, àqueles que não conhecem teu poder...Dominação se dá por controle, medo, ordem. O Temor daquilo que não se conhece pode ser útil, mas é temporário, apenas o medo verdadeiro cria amarras e correntes dominadoras inquebráveis.

- Sobre as cruzadas e o poder que tanto conclama, contarei-lhe uma novidade. O âmago da guerra foi tramado por um agente da corruptora, que conseguiu inclusive colocar garou contra garou defendendo seus territórios e poder com a simples desculpa da fé humana. És um tolo, se achas que cada acontecimento, cada centímetro de terra desta existência não está em constante conflito, na dualidade da existência...A Wyrm é o caminho, senhor Wolf e creio que descobrirá isso por si mesmo, sem a necessidade de minha influência.

- Admito que tuas crenças me são atrativas, interessantes. Principalmente pelo fato de já ter torturado alguns de sua tribo que não compartilhavam desta visão.

- Deve ser difícil para um Ancião, após ter vivido tanto tempo, ver suas crenças desmoronarem perante um jovem, não, senhor Collins? Gaia está comigo. Estou certo.

Essas foram suas últimas palavras antes de desaparecer completamente.

Informação é poder. E o Dançarino lhe informara o que foi preciso. A guerra foi tramada pela Wyrm, e esse conhecimento lhe seria útil.

Mas o que estava a acontecer agora? Anthony olha através do próprio corpo e se vê a flutuar. Tenta avaliar a expressão no rosto do Dançarino da Espiral Negra, enquanto sai de dentro do círculo em chamas.

A situação em que se encontra era surpreendente, mas não tinha tempo para se maravilhar.

O Garou se apressa em se retirar do local o mais rápido que conseguir nessa nova forma. Havia um ritual da Wyrm a impedir.

* Divertia-se com o diálogo, o Senhor das Sombras era interessante, afinal.

- Quanta petulância jovem...me divertes, em todo caso, embora eu...

* Nota o corpo do garou se tornar translúcido, espectral, e sair das chamas em velocidade de caminhada, sorri discretamente.

- Nos encontraremos novamente, Senhor Wolf. Sobreviva até lá, é de meu interesse. A propósito, em breve o sol irá se pôr, o que acha que poderás fazer agora?

* Gargalha, desaparecendo nas sombras.

* Anthony corre pelo navio, procurando algo que pudesse indicar uma saída, uma forma de burlar as intenções do Dançarino. Nota apenas que praticamente em todos os locais por onde passou, viu ao menos um rato circulando, escondendo-se entre os barris, cordas, frestas na madeira e qualquer outro objeto que coubesse um.

De repente, ao virar à direita na proa do navio, se depara com um marujo, com um esfregão na mão. Prontamente ele olha para Anthony e exclama.

- O senhor está bem!? Deveria estar em seus aposentos!

Anthony já vinha se perguntando algo. E agora começava a confirmar o que suspeitava.

Ratos. Eles se espalham por todos os lados,cada espaço mínimo. E se os Dançarinos da Espiral Negra pretendem usá-los para seu plano? O navio desembarca, os roedores descem e a morte os acompanha.

Quando indagado pelo marujo, olha para ele.

- Esses malditos animais infestaram tudo por lá. Como vou ficar com essas criaturas subindo por cima de mim? Mas possuo algumas ervas que provocam um cheiro que os afasta. Para isso eu precisaria de um pouco de fogo para queimá-las.

* O marujo gargalha doentiamente.

- Fala dos roedores!? Eles são a vida...a nova vida!

* Ele olha o viajante com ambos os olhos arregalados e a boca entreaberta, sua expressão era assustadora e intimidadora, agia como um louco.

- Deves voltar ao quarto...agora...são ordens do Capitão!

* Neste meio tempo, mais um rato passa pelos homens, Wolf consegue notar que ele deixa um rastro molhado por onde passa, algo translúcido e aquoso.

- Como quiser.

O Garou sai do campo de visão do marujo. Pensara em ir para a Umbra, mas Avô Trovão lhe contara o suficiente para não arriscar essa atitude.
Vários marujos provavelmente seriam servos da Wyrm. Não tinha condições de guerrear com todos eles.

De qualquer forma, não poderia permitir que a Maldição da Destruidora chegasse ao mundo. Seria um cataclisma sem proporções. Aqueles ratos precisavam morrer. E se não fosse com fogo, que seja com a água.

Anthony se dirige ao convés do navio, até uma das bordas e avalia a situação geral, nos mínimos detalhes.

* Da cabine no segundo andar, com a visão privilegiada, observa o viajante incômodo perambulando pelo convés. Sebastian havia o libertado?...De toda forma, se põe a averiguar.

Sai da cabine e apoia-se na barricada de madeira, uma espécie de corrimão, olha para baixo e fala em alto e bom tom.

- APRECIANDO A VIAGEM, LOBINHO!?...ME INCOMODA DEIXAR UM CACHORRO ANDAR LIVRE NO MEU NAVIO...

O Garou avaliava as condições da embarcação quando escuta os gritos de Barrabás.

- Primeiro, o navio não é seu, é apenas um servo de Sebastian. Eu o ouvi claramente lhe chamando de "inútil".

Em seguida sorri ironicamente.

- E me incomoda o seu cheiro. O senhor fede. Agora entendo porque o Senhor Collins falou com desprezo. Quanta lentidão para preparar os roedores, até eu teria feito melhor.

Se encosta em uma das bordas do navio.

- Espero que eu não precise lhe ajudar na última etapa também.