Prelúdio Sibylla Qdari - A mensagem dos Sussurros do Vento

* Seu semblante pesou, pareceu desapontado.

- O que sabemos é que nosso espião foi perseguido enquanto apressava-se para retornar com as informações que precisamos, e fora assassinado. Meus batedores não encontraram seu corpo, ou qualquer sinal do que tenha realmente acontecido com ele.


- Ele estava alojado em Bristol, por conta própria. Preferia agir sozinho. Tu, no entanto, serás enviada à cidade baixa, sob a tutela de Solomon Heart. Um parente que reside na Ilha Bretã.

* Retira das vestes um pergaminho selado com a marca do Sultão.

- Guarde isso com a sua vida, e o entregue ao Solomon, que reside em um pequena cabana aos pés da Floresta de Greenwich.

* Fica pensativo por um instante.

- Sobre a floresta...há outros garous no local. A Besta de Greenwich é furiosa, porém Sábia. Há muito tempo travamos uma batalha juntos. Envolva-se também com a seita que se forma por lá, além de informações, precisará da tutela daqueles de posto elevado para erguer-se em nossa sociedade.

- Mas não perca-se em tua missão. Infiltre-se e descubra sobre o que realmente acontece com Edward, o rei.

*Pega o pergaminho selado e o olha por alguns instantes, escutando as recomendações do Sultão. Era uma missão extremamente delicada e perigosa. Estava indo para território desconhecido, embora conheça a sua linguagem, pouco sabe de sua cultura. Carregar o nome Qdari, talvez não fosse um vislumbre de grande esperança.

Caminha pela sala atenta, pensativa, e ao término das palavras do Sultão, ainda com o pergaminho na mão, assentiu com a cabeça.*

- Vai ser importante ter o apoio de outros garous, conhecê-los. Se alguma criatura da Wyrm controla o rei, eu saberei. Todas as informações que eu obtiver, darei um jeito de enviá-la com segurança.

* Sorri.

- Confio inteiramente que sim, Sussurro do vento. Enviarei espíritos mensageiros a cada ciclo, para que tragam as informações que conseguir.

* Passa por Tarrak e o cumprimenta com a cabeça, sem dúvidas tinha realizado um grande trabalho com o treinamento de Sibylla. Em seguida, volta a olhar a Phillodox.

- Descansem esta noite no palácio, pela manhã uma comitiva os acompanhará até o vilarejo portuário, de onde partirá, Sibylla, rumo às novas terras e a difícil tarefa que lhe peço. Sei que estou deixando um fardo pesado sobre seus ombros, mas saibas que não o faria se não fosse necessário.

*Guardando o pergaminho, para que não ficasse a vista quando fosse para o seu aposento, abaixa a cabeça e saúda o Sultão, ainda de cabeça baixa, leva uma mão ao peito e fala com firmeza.*

- Não se preocupe com o fardo que carregarei, meu senhor. Nosso povo, nossa nação e nossa mãe Gaia precisam que a tarefa seja realizada, fico honrada e feliz pela confiança que esta depositando em minhas mãos. Não o decepcionarei.

*Ergue a cabeça novamente, passa os olhos por Tarrak e novamente pelo Sultão, voltando a falar.*

- No caminho para a cidade portuária, ou durante a viagem, sabe se terá alguém que conheça os costumes britânicos? Eu conheço sua linguagem, mas preciso conhecer os costumes, para não chegar de surpresa por lá.

* Acena positivamente com a cabeça.

- Sim, Sibylla. Tarrak já foi instruído sobre as informações e detalhes necessários para sua viagem. Terão tempo até o amanhecer para que compartilhem estas informações.

* Levanta-se, caminha até o outro lado da sala e pega uma adaga dourada que ornamentava a parede. Em seguida aproxima-se de sua nova espiã.

- Confiarei a ti algo mais, Sussurro do vento.

* Com ambas as mãos, oferece a adaga à Sibylla.

- Esta é a Lâmina da Tempestade, uma lendária e antiga adaga dos Peregrinos que me serviu por anos. Agora, pertencerá a ti, espero que sejas útil em terras tão distantes.

* A adaga era inteiramente dourada, sua bainha era branca com entalhes de ouro. Sua lâmina curva era tão bela quanto afiada.

Lâmina da Tempestade:

*Passa os olhos por Tarrak e faz um sinal com a cabeça, indicando que iriam conversar muito antes que o dia amanhecesse.

Mas foca-se no Sultão, não saberia em quanto tempo iria lhe encontrar novamente, e antes que pudesse perguntar ou comentar qualquer coisa, este lhe entrega uma adaga, não uma qualquer, mas um fetiche lendário entre os Peregrinos Silenciosos.

Imediatamente, Sibylla abaixa a cabeça, pegando com cuidado a adaga. A observa por alguns instantes, admirando a sua beleza, em seguida, ergue a cabeça novamente, com um sorriso no rosto.*

- Muito obrigada por esta honra, meu senhor. Muito me ajudará nesta demanda vindoura.

*Agradece mais uma vez, aguardando a autorização para se retirar. Os preparativos para a sua demanda deveria começar imediatamente, e o principal seria colher as informações que Tarrak detinha.*

* Sorri, satisfeito com o desfecho da conversa.

- Vão, que Gaia e sua versão entre os homens, Alah, os acompanhe.

* Diz sentando-se a cabeceira da grande mesa. Ser Sultão, afinal, era mergulhar na solidão de seus afazeres.

*A phillodox faz uma reverência na direção do Sultão, do seu tio, seu sangue. Não saberia quando voltaria a vê-lo, se voltaria. Seu destino estava sendo selado naquele momento, restava rezar a Gaia e confiar no treinamento que recebera dos Espadas Lendárias.

O olhou uma última vez, erguendo o olhar.*

- Que nossa mãe continue te abençoando e iluminando, para que guie nosso povo pelos melhores caminhos. Até breve, Baibars.

*E assim, a peregrina caminha para a saída, chegando ao lado de Tarrak, o seu mentor por tantos anos. Assegura-se que estava com o pergaminho e com a adaga, e caminhando lentamente, começa a falar.*

- Tarrak, então sabia dessa demanda que o sultão me designou?

*Abre um sorriso, fazendo uma pausa, mas logo continua.*

- Bom, eu sei a linguagem dos britânicos, mas pouco sei doa seus costumes. Ficaria grata se pudesse me elucidar sobre o que sabe.

* Caminhava pelos grandes corredores do palácio com os braços cruzados para trás, sua postura habitual. Sua face era sempre calma e sua voz, apesar de grave, sempre trazia paz.

- Sim, Sibylla. Eu fui designado para preparar-te para esta demanda há alguns anos. Por isso a língua Bretã foi incluída em seus ensinamentos.

* Respirou profundamente e concluiu.

- Será uma difícil tarefa, Sussurro do Vento, mas por meu nome e honra, atesto tuas habilidades para cumpri-la.

- Sobre seus costumes? Diferem bastante de nossa cultura, em especial sua religião, obviamente sabes disso muito bem e dos conflitos gerados por tal discrepância.

- A igreja católica é poderosa Sibylla. Do meu ponto de vista, não há Rei, Sultão ou monstro com maior capacidade de dominação do que os altos clérigos católicos. Por isso, estará na cova dos leões. Não me surpreenderia se a Igreja estivesse por trás das ações de Edward, o suposto Rei.

- O sistema de propriedade de terras e vassalagem ainda impera em Bristol, serás acolhida por um de nossos informantes e elucidada sobre seus costumes.

- Mantenha-se nas sombras, não se exponha, vista-se como eles. Providenciarei vestes para sua viagem. Comerá o que comeren, viverá entre eles, será acolhida por outro espião de nossa confiança. Gerard Lancaster é seu nome. Ele está situado na alta cidade, entre a nobreza, onde o acesso aos círculos superiores e ao dia a dia daqueles que rodeiam o Rei será facilitado.

- No entanto, atuarás também como emissária de paz na floresta de Greenwich, ao se encontrar com Dentes do Abismo, um ancião dos temíveis Garras Vermelhas. Aja com respeito e submissão, o lobo é tão velho quanto aquelas terras e mais furioso do que posso imaginar.

* Deu tempo para que ela assimilasse as informações, e que pudesse tirar alguma dúvida.

*Prestava atenção em cada palavra proferida pelo Espada Lendária, uma última lição antes da partida. A demanda seria difícil, tinha certeza, mas aprendeu a melhor qualidade de Tarrak: adaptabilidade. Sabia que logo estaria a par de todos os costumes britânicos. *

- Esse espião, Gerard Lancaster, ele é parante, garou ou apenas um humano de confiança? E quando eu desembarcar na Inglaterra, quem devo procurar no cais?

*Faz uma pausa, medindo as próximas palavras.*

- Quando estava estudando a língua bretã, e por causa dessa guerra sangrenta, onde usam Deus como uma desculpa para suas brutalidades, estudei tudo o que pude sobre a Igreja Católica. O catolicismo é hoje em dia, a instituição mais poderosa da Europa. Perigosa, ardilosa, guarda os seus segredos a sete chaves. O conhecimento é compartilhado com poucos, o poder das decisões, a um grupo ainda mais restrito.

De fato, eles estão por trás do Rei, basta saber quem dentre eles é um agente da corruptora. Mas pra isso, eu preciso estar lá, bem no meio do covil.

*Vira-se de frente para Tarrak, seus olhos estavam tranquilos, passando uma calmaria para o Peregrino.*

- Farei o meu melhor e duas vezes mais. Ambas as demandas serão cumpridas, lhe dou minha palavra.

Tarrak notava a vontade de sua aprendiz de fazer o melhor, e por isso a adverte.

- Sejas paciente. Caberás a ti colher as informações solicitadas, não precipite-se. Suspeito sim dos Clérigos católicos, mas por hora não há como afirmar que sejam eles os agentes da Wyrm. Muitas vezes, a ambição humana é a semente da mácula que enfrentamos.

- Lancaster é um parente, ele irá recepcioná-la no porto de Bristol. A ele, confio sua estada. Um navio partirá de Netanya, em dois dias, seu direito de embarcar, vestes e pertences estarão em seu dormitório, basta apresentar-se com seu real nome.

* Parou no grande corredor, a olhou e concluiu.

- Há algo em que possa ajudar-te antes da partida, Sibylla?

- Sim, já vimos de perto o que a ambição do ser humano é capaz de fazer, transforma o mais puro coração em uma alma, mente e corpo podres. Terei paciência, minha vontade de cumprir todas as etapas com perfeição sabe que a paciência é o primeiro passo para conseguir ter êxito.

*Ponderou as recomendações de Tarrak e seu ultimo questionamento. Voltou-se a ele e calmamente o respondeu.*

- Creio que todas as informações que eu necessitava, já obtive, o restante será apenas com a vivência.

*Ela parou e aguardou a resposta de Tarrak, depois entraria para seus aposentos e analisaria as vestimentas e o todo o resto que deixaram por lá.*

* Sorri e despede-se.

- Amanhã, ao raiar do sol, haverá uma carruagem na entrada do palácio para levá-la à Netanya. Que Gaia esteja com você, Sussurro do Vento.

* Indica os aposentos de Sibylla para a esquerda e caminha na direção oposta, talvez tivesse algo ainda a fazer.

*Faz uma reverência para Tarrak, sorrindo amigavelmente.*

- Que seja feita a vontade dela. Até breve, Coração Sábio.

*Despede-se do peregrino e entra em seu quarto, muito havia sido dito, muita coisa ainda estava latejando em sua mente, muitas estratégias a serem traçadas e principalmente, a Phillodox deveria encontrar a sua paz interior, ter paciência e acima de tudo ser sangue frio.

Respirou fundo e caminhou pelo quarto, observando as coisas, parou na janela e mais uma vez contemplou o belíssimo cenário que estava a sua frente, ao fundo, as dunas de areia sendo banhadas pela luz de Luna.

Seu dever com Gaia estava chamando, e ela precisa estar pronta.

Olhou as roupas designadas por Tarrak, não teria muito tempo no dia vindouro, então aproveitaria para dedicar um par daquelas roupas, nunca se sabe o que encontraria pelo caminho. Após isso, iria dormir para levantar cedo.

*A viagem fora tediosa, embora aproveitasse para apreciar a imensidão e beleza das dunas de areia. Não sabia quando e se voltaria aquelas terras, guardar um pouco da sua terra na memória era o que poderia fazer naquele momento.

Quando a carruagem pára, ela guarda o pergaminho dado diretamente pelo Sultão dentro de suas vestes, bem protegido e fora do alcance visual alheio. Retira o seu véu, guardando com suas coisas, pegando por fim, o pergaminho que era o seu direito de embarque no navio.

Ela sai da carruagem, olha para o cocheiro e fala calmamente.*

- Que Alah ilumine e guie sua viagem de volta. Salaam aleikum.

*Faz um gesto com as mãos, tocando o peitoral, boca e testa, saudando o responsável pela sua viagem em segurança, distanciando-se dele, procura por alguém com vestes um pouco melhor, o que seria o capitão das embarcações.*

* Sibylla despede-se, o cocheiro usando um grande turbante amarelo, sorri e a cumprimenta de volta, arqueando o corpo levemente.

- Alaikum As-Salaam.


* Ao observar o porto e toda a sua diversidade, a phillodox se perder por um instante. Era tudo muito grandioso, os navios, a quantidade de barris e fardos com especiarias e pessoas passando por ali. De repente, um garoto tromba com Sussurro-do-Vento. Ele junta as mãos e abaixa a cabeça pedindo desculpas, e logo segue seu caminho correndo.

Mais à frente, Sibylla nota alguns homens subindo a prancha de um grande navio, o único que parece estar embarcando pessoas. Na prancha, um deles recepciona, olha os pergaminhos e permite a entrada. Neste momento, Sibylla nota que o pergaminho não está mais em sua posse. O garoto corre por entre as tendas, como o vento sobre a areia.

*A imensidão do porto a assusta e a distrai por um breve momento, mas suficiente para lhe causar transtornos logo no princípio de sua viagem. Sibylla cerra os olhos na direção do garoto correndo por entre as tendas, não teria muito tempo, até que ele se perdesse na multidão.*

- EI, VOLTE AQUI CRIANÇA, VOCÊ PEGOU ALGO QUE É MEU!

*A garou segura firme suas coisas e começa a correr o mais rápido que pode para alcançar o guri, gritando para que alguém segurasse ele no caminho.*

- SEGUREM ESSA CRIANÇA!

* O garoto é esguio, rápido. Salta por cima das barracas armadas, escapole por entre os braços dos homens que tentam segurá-lo. Sibylla corre o seguindo, por vielas entre os casebres, até que o encurrala em uma rua onde há apenas o mar à frente e uma pequena casa de cada lado. Um pouco afastadas da grande feira do porto.

Ele sorri.

- Não deveria ter vindo.

* A porta de uma das casas se abre, dois homens saem por uma delas, o menino continua falando.

- Seus pertences, ou sua vida.

*A peregrina solta um suspiro longo, como se não estivesse acreditando na situação embaraçosa em que se encontrara. Ela fita o garoto, seu semblante era sério e não parecia amedrontada pela presença dos dois homens.*

- Eis o que vai acontecer, moleque. Você vai me entregar o que roubou de mim e talvez, eu disse talvez, eu não lhe entregue as autoridades.

*Ela encara os homens e cruza os braços, voltando sua atenção ao menino.*

- Vamos, não tenho o dia inteiro para perder aqui com você.

* O garoto parece não acreditar, pensa um pouco e sorri.

- És louca?

* Olha os homens que estão prestes a atacar.

- Esperem um pouco.

* Ele se senta sobre um barril*

- Olha, não costumo atacar mulheres, loucas então eu evito mesmo, mas sabes? A necessidade faz a ocasião, como dizem. De novo, deixe só suas coisas e vá embora moça, tenho bocas pra alimentar e tua vida me pesará os ombros mais tarde, eu acho...

*Ainda de braços cruzados, a garou observa o ambiente mais atentamente, principalmente as duas casas que os cercam, tentando encontrar ou ouvir qualquer indício de mais pessoas. Depois volta sua atenção ao garoto e aos homens.*

- Louca? Não diria isso, digamos que sou uma mulher que preza pelas suas coisas e não as abandona por qualquer motivo.

*Faz uma pausa, olhando mais seriamente para o garoto.*

- Agora me diga, você, uma criança, tem bocas para alimentar? Porque esses brutamontes não estão trabalhando ao invés de ficarem aqui, plantados e tentando amedrontar mulheres no porto?

*Descruza os braços, com todos os seus sentidos em alerta, pronta para defender-se e atacar os homens. Iria pegar o pergaminho e entrar naquele navio.*

- Não tenho o tempo todo garoto, ou me entrega esse pergaminho agora por bem, ou eu mesma vou pegar.

* Sibylla nota que no interior das casas há crianças, muitas, escondidas atrás de barris e quaisquer outros pedaços de madeira. Observavam a cena.

O garoto ficou de pé sobre o barril.

- Deve ser uma nobrezinha mimada, nem sabe no que se meteu...olhe, mulher, vá agora. A deixarei ir em respeito a....a.....a....bom, a minha própria benevolência. Sim, Moajir, o piedoso. Espalhe essa notícia e estás ivre...mas o pergaminho fica.

* Os dois homens, magros e não muito amedrontadores, se mantém observando com pequenos punhais em mãos.

Por baixo das vestes, o corpo de Sibylla cresce, fica mais forte. Antes que pudessem notar, ambos os homens são nocauteados e caem, sem oferecer resistência dígna para uma aprendiz dos Espadas do Deserto. Eram magros e frágeis afinal.

O garoto parece assustado, se encosta na parede. Antes que Sussurro do Vento pudesse fazer algo, um garoto, que não deveria ter mais que quatro anos,corre saindo da casa e fica à frente da glabro.

- Nah!...Deixa Moa em paz! Deixa!...

* O garoto usava trapos, estava muito magro e era baixo para sua aparente idade.

*Vendo que conseguiu desmaiar os homens sem maiores problemas e sem muito alarde, a peregrina olha para o garoto que estava com o seu pergaminho e logo o outro garotinho se enfiando na frente dele, protegendo o que deveria ser o provedor de comida da casa.

Super atenta aos movimentos do garoto, ela se aproxima, voltando a sua forma normal, olha para os garotos, sua expressão era séria, mas sua fala era branda.*

- Moajir, não é mesmo? Nunca tive intenção de lhe machucar e te deixarei em paz, não mentiu quando disse que tens muitas bocas para alimentar. Me entregue o pergaminho agora e deixarei algo para que compre provisões para seus irmãos. Temos um acordo? Ou quer que eu pegue o pergaminho por mim mesma?

* Moajir se aproxima, com medo no olhar e vergonha na alma. Vencidos por uma mulher.

- Aqui está. Sabe, esses pergaminhos de entrada valem bastante, conseguimos comida para dois ou três dias com um deles.

* O pequeno que antes tentava proteger seu líder, agora brinca com as roupas de Sibylla, as puxando. Uma dezena de outros pequenos olhos brilham dentro do casebre, observando a cena. Moa, o garoto trombadinha, continua.

- Vocês nobres vem aqui, pegam seus navios, comem e bebem do melhor e deixam nada além de restos e sobras para nós. O sultão nos esqueceu há muito tempo...ele só se interessa pelos infiéis, os católicos...enquanto isso nós morremos de fome. Mas o que uma mimada como você saberia disso? Eu vi...chegou em uma carruagem branca, com um guia, deve comer e beber do melhor. É forte assim porque treina como diversão...eu sei...nunca tinha visto uma mulher lutar assim, deve ser mais um capricho dos ricos...

*A peregrina pega o pergaminho e o guarda em segurança, longe dos olhos de outros trombadinhas. Fica atenta a cada movimento de mãos do moleque e das crianças em volta. Escuta o seu lamento, era válido, a fome e a sede podem despertar um dos maiores monstros, Sibylla bem sabia disso.

Ela retira o seu véu, que por sinal, era o único que tinha de seda, que valia muito dinheiro, caso fosse vendido para a pessoa certa, e com a lábia do menino, duvidada que ele não conseguisse enrolar uma senhora pelo cais.*

- Tome Moajir, não é muito, mas é o que tenho, conseguirá vender para alguma senhora do porto prestes a embarcar, esse véu veio especialmente da própria princesa, e por causa disso, valerá muito mais do que o seu real valor.

*Ela pisca para o garoto, e antes de partir, termina.*

- E não, eu não sou nenhuma nobre, mas a guerra transforma as pessoas, e eu tive que me transformar, me adaptar, me defender para sobreviver, você ainda é muito novo, mas já carrega esse peso nos ombros. Tome cuidado com o rumo que esta traçando para a sua vida. Não deixe que os nobres ou o Sultão sejam uma desculpa para o seu fracasso, batalhe pela sua glória, nem mais, nem menos. Fique em paz pequeno.

*Segura bem as suas coisas, rente ao corpo, e utilizando de toda a sua velocidade e vigor, sai correndo na direção do navio novamente.*

* O garoto Moa parece tocado pelas palavras de Sibylla, até olhar ao longe uma carruagem cortando as ruas, então ele sorri e agradece correndo para o local.

- Claro, claro...boa viagem mulher e não volte mais aqui ou lhe daremos uma surra!

* Ele sai correndo e escondendo o véu que ganhou nas imundas e rasgadas roupas. Os outros meninos menores correm como ratos para os casebres, escondendo-se. Sibylla retorna ao porto, o mais rápido que pode e nota que o Navio está prestes e zarpar. Grita um homem com vestes escuras, calvo e com pouca barba.

- APRESSEM-SE, APRESSEM-SE. O NAVIO VAI PARTIR! A PRANCHA SUBIRÁ EM INSTANTES!

* Os últimos viajantes entregam seus pergaminhos e sobrem, alguns são ajudados durante o embarque por meninos da estirpe de Moajir, que carregam sorridentes seus pertences.

*Faz um aceno com a mão para Moajir e segue seu rumo. Ao chegar novamente a beira do cais, a peregrina apressa os passos novamente, indo na direção do homem que gritava, ela mesmo carregaria suas coisas, não deixaria a encargo de nenhum dos meninos, sabia bem o destino que sua bagagem teria.

Aproxima-se do homem, faz um aceno com a cabeça, retirando o pergaminho que acabara de recuperar e segurando firme nas mãos.*

- Quase que perco a hora! Este navio esta indo para Bristol?

* O homem observa o pergaminho, o analisa e em seguida permite a entrada da Viajante. Falava a língua local, mas com um sotaque carregado, e suas feições não negavam: era Bretão.

- Sim, notável Dama. À Bristol e seu adorável clima, que unido à segurança dos grandes muros a fazem um Oásis se comparado a este deserto impiedoso.

* Examina o pergaminho.

- Sigas para a proa, teus aposentos ficam lá, dormitório de número seis.

*Abre um sorriso discreto para o homem, fazendo um aceno com a cabeça.*

- Que todos façamos uma boa viagem, rumo ao Oásis! Muito obrigada, caro senhor.

*Ela segura sua bagagem e se encaminha para a proa, procurando o quarto de número seis, seus aposentos pelos próximos meses.*

* Caminhando pela proa em busca de seus aposentos, e distraído com sua bagagem, esbarra na jovem. Sorri para a mesma após o leve incidente.

- Perdoe-me, costumo ser relapso em ambientes abertos.

* Seu olhar era curioso, mas gentil.

*Também estava distraída a procura de seus aposentos, quando novamente esbarra com alguém. Instantaneamente, olha para suas bagagens e depois para o senhor, levanta uma das mãos em sinal de que não tinha problema.*

- Sem problemas, caro senhor. Todo mundo se atrapalha um pouco com bagagens, não é mesmo? Faça uma boa viagem!

*O cumprimenta e continua procurando os seus aposentos.*

* Sorri de volta

- De fato, minha cara, de fato. Faças uma boa viagem...voe, longe das asas dos familiares.

Sorri maliciosamente e caminha em direção ao dormitório de número nove.

* Sibylla nota que a comida era fresca, apesar dos insetos atraídos naturalmente pelo seu cheiro. De seus aposentos, ouve gritos que iniciam a viagem.

- IÇAR VELAS! FORTALECER AS AMARRAS DO MASTRO PRINCIPAL! VAMOS HOMENS, A MARÉ NÃO SERÁ TÃO PACIENTE QUANTO EU!

* O navio possui um balanço constante, leve, mas incômodo para quem sempre viveu com os pés fincados na areia.

*O foco no treinamento e o esforço físico faziam com que ela relaxasse, uma maneira de adiar seus pensamentos no que faria quando chegasse em Bristol, teria muito tempo naquela viagem para acertar esses detalhes.

Escutando as batidas na porta, ela levanta-se e responde com firmeza.*

- Um momento, por favor.

*Lava o rosto, secando-o e veste sua roupa novamente. Levaria um tempo para se acostumar com as novas vestimentas, depois que termina, abre a porta.*

- Pois não?

* Ao abrir a porta, Sibylla vê um marujo. Um homem barbudo, com cabelos curtos e bastante acima do peso, pelas vestes simples era um dos serviçais da embarcação.

- Olá Senhora. Desculpe interromper sua viagem, o capitão Armand Reyes emite um convite à todos os viajantes para um jantar, ao cair da noite, em sua cabine.

- O propósito do evento é dar as boas vindas e explicitar o percurso até o Canal de Bristol, na Ilha Bretã. Por favor, compareça.

* A Phillodox nota que o homem, apesar de aparentar ser simples, se expressa muito bem. Possui calma e um vocabulário dígno de um orador. Ele aguarda a resposta para que possa se retirar.

*A peregrina nota a eloquência do marujo, algo que lhe chama a atenção, dificilmente pessoas mais simples tem um vocabulário abrangente, ainda mais sabendo usá-lo tão bem. Ela mantém-se segurando uma das portas, faz um aceno com a cabeça, consentindo.*

- Um jantar ao cair da noite na cabine do capitão? Me responda uma coisa, caro marujo, como todos ostripulantes deste navio vão caber na cabine do capitão?

*Ela mantém a sua postura, mas antes que o marujo termine, conclui.*

- Pode contar com minha presença, estarei lá ao cair da noite.

* O marujo sorri.

- Não se preocupes, senhora. A cabine é especialmente preparada para isto, é uma rotina criada pelo capitão. Lá, encontrará espaço e uma grande mesa que abrigará a todos os viajantes, com exceção da tripulação, obviamente.

* Ele a cumprimenta com a cabeça, aguarda algum possível comentário e deixa o local, indo ao próximo quarto.

- Com sua licença, Milady.

*Sorri e faz um aceno com a cabeça para o marujo. Fecha a porta e retorna ao seu quarto, sentando na cama e olhando para as suas coisas, milhares de pensamentos a perturbavam no momento, tanto a fazer, tanto a esconder, sua mente voa longe.

Depois de vários minutos assim, ela levanta-se, arruma o cabelo e ajeita as coisas no seu quarto. Precisav ver os costumes das outras pessoas, e nada melhor do que observando. Depois de se arrumar, pega o pergaminho dado pelo sultão e o guarda consigo, longe das vistas de qualquer um.

Se dirige para fora do seu quarto, a procura de alguém com costumes bretões.*

- Será uma longa viagem. É difícil permanecer nos aposentos por muito tempo, não?

* Aguarda que ela se vire em sua direção e sorri. Usava trajes nobres, embora fossem de cor escura e dispensasse capas.

*Estava curiosa com os costumes das outras pessoas, o que mais diferenciava, de longe, eram as vestes. Tecidos mais pesados, partes do corpo a mostra...iria demorar um tempo até se acostumar.

Outra coisa que lhe surpreendia, era o mar, nunca antes visto pela peregrina. Seus olhos percorriam toda a extensão do mar que conseguia, seu olhar parecia tão curioso quanto a da criança. Mas desperta de seu transe de curiosidade quando escuta uma voz atrás de si.

Ela vira-se e nota o mesmo homem que encontrou mais cedo.*

- Difícil ficar contemplando a mesma parede por tanto tempo.

*Ela abre um sorriso simpático.*

- De fato.

*Sorri.

- Onde estão meus modos? Sou Edgar Rhaskus, mercante de especiarias.

* Diz curvando-se em um cumprimento formal.

*Faz uma pequena reverência com a cabeça.*

- Especiarias? Que tipo de especiarias, senhor Raskus? A propósito, me chamo Isis Pizzicolli.

* Se apóia na lateral do navio, olhando as ondas.

- Em sua maioria, alimentos. De várias espécies. Mas aprecio tecidos também, peles...

* Olha para a Dama.

- E a senhorita, Isis, o que a faz viajar sozinha até tão perigosas terras em ilhas Bretãs?

*Seus pensamentos voam longe com o início daquela conversa, fazia muito tempo em que não conversava com um desconhecido, aliás, não lembra quando foi a ultima vez que isso aconteceu. Mas a peregrina era segura, treinada para esse tipo de situação.*

- Sou uma estudante, além de estudar a cultura, eu estudo as enfermidades do corpo humano, e estou indo para as terras bretãs por causa da gama de opções, ouvi dizer sobre as terras serem perigosas, mas o estudo vale a pena.

* Deixa escapar um sorriso ao ouvir sobre os "estudos".

- O corpo humano? Ah...sim, uma de minhas paixões.

* Seu olhar é curioso, mas sua expressão é amistosa.

- Tem belos olhos, senhorita Isis. Orientais eu diria, apesar do curioso sobrenome...seria franco? Ah...minha comum falta de senso ao perguntar em excesso, perdoe se for invasivo.

*Por alguns instantes fica olhando para a imensidão do mar e suas ondas, o navio já se distanciava da costa, mas ela parecia a vontade conversando com o senhor.*

- De forma alguma, quando estiver sendo evasivo demais, eu apenas não lhe responderei. Mas eu venho do Imperium Graecorum, sou uma grega, senhor Rhaskus.