Canal de Bristol - Região Portuária

* Levanta-se da cadeira e começa a caminhar em torno da mesa, com as mãos nas costas, cruzadas.

- Aparência é apenas a superficialidade do plano, senhor Wolf. Se aceitares, serás marcado com o auxílio de espíritos aliados. Tua aura, cheiro e qualquer traço que o caracterizam como um simples garou serão apagados. Renascerá com uma nova aura, uma nova alma. No corpo do senhor Harvey Neshville.

Para ao lado de Homem-Urso.

- O senhor Bruin de Schwarzwald é vital para a nossa, e a tua, sobrevivência. Um ritual foi feito para liberar a praga, outro deverá ser realizado para interrompê-la. Felizmente, possuo acesso ao elemento desencadeador do fenômeno.

* Olha Wolf.

- E possuo acesso ao sangue, curado, de um ser sobrenatural exposto à maldição dos roedores. Nos falta apenas um item. O cálice do salvador da humanidade.

* Olha todos a mesa por um instante.

- O Santo Graal.

O Garou ouve as indagações do Gurahl após as explicações do Tzimisce.

- Navio de Collins? Conhece Sebastian Collins!? O que sabe, Gurahl?

Em seguida se vira para Lamazus.

- Creio que não encontrou ele "coincidentemente" também.

- E Santo Graal? Muito me interessa como tudo isso se relaciona. Talvez pudesse explanar melhor.

* Pensativo, responde a Wolf.

- Encontramos ambos porque mantínhamos Collins sob vigilância. Diga-me, senhor Wolf, durante a viagem recebeu a visita de algum espírito?...Se tratava de um servo de Lamazus.

* Olha seu mestre, a história do Graal era sempre interessante a seus antigos ouvidos.

* Novamente caminhando por um lado da grande mesa.

- Inicialmente, preciso adverti-los que Sebastian Collins concluiu um ritual complexo, mas que tinha se iniciado a séculos. Com diversos preparativos e o auxílio de algumas entidades impronunciáveis. Estamos lidando com algo secular, algo tramado e executado por gerações de criaturas com um único propósito: a destruição. Completa e absoluta.

* Fez uma pausa e retomou o assunto.

- O Graal é muito mais antigo do que o mito cristão impõe. Escutem com atenção, o que direi me foi revelado pelo primeiro de minha linhagem e poucos além dessa sala possuem tal conhecimento.

* Parou e colocou as mãos sobre a mesa, sua face é séria, quase inexpressiva. Seus olhos não piscam.

- O Graal, em verdade, é o Bálsamo de Adão. O primeiro dos Homens. Ele foi retirado da árvore primordial, em forma de resina e logo ganhou contornos de barro. A lenda indica que qualquer criatura que bebesse no vasilhame feito do Bálsamo de Adão seria curada de suas enfermidades, não importa a sua natureza.

- Quando a maldição atingiu Caim, o primeiro dos Vampiros ou Cainitas, foi natural que a busca pelo Bálsamo se iniciasse. No entanto, nenhum descendente do Primeiro conseguiu encontrá-lo. Ou assim nos fizeram acreditar.

* Deu uma pausa, olhou uma pintura na parede que retrata um homem segurando um objeto de barro semelhante à um jarro.

- Milênios após os acontecimentos, Ashur o encontrou. Alguns tolos acreditam que Ashur é apenas uma outra denominação de Capadoccius, um dos terceiros na linha de sucessão de Caim. Se enganam.

- Ashur é, na verdade, sucessor direto de Caim. Um vampiro de segunda geração. Egípcio, dispôs de seu tempo e sabedoria em busca do Bálsamo de Adão e o encontrou. Deste ponto em diante, alguns escritos milenares apontam que, com o uso do artefato, ele atingiu a Golconda, o estado maior de iluminação de um amaldiçoado. Outros dizem que Seth o destruiu. Mas estes detalhes devem aborrecê-los, não se adequam à sua realidade e não irão interferir em nossa busca.

- O importante disto, é sinalizar que o Bálsamo resistiu as eras. Ganhou novas formas. Os celtas o cultuavam, histórias foram contatas sobre cavaleiros e um Cálice sagrado e Jesus Cristo, o dito salvador da humanidade, o portou, de fato. Sua forma material mudou com tempo. Do Barro ao Ouro. Mas o essencial é a resina da Árvore Primordial.


- Após longos séculos de pesquisa e imersão em diversos níveis espirituais, localizei o Santo Graal, o Bálsamo de Adão. E por isso, os Senhores estão nessa sala.

* Voltou a seu lugar, sentou-se e olhou os convidados por um instante, antes de concluir.

- Metamorfos são criaturas de dois planos de existência. Transitam entre o mundo físico e o espiritual. Por isso, são os mais indicados a alcançarem o artefato.

- O Santo Graal está em um local conhecido como A Lamentação de Eva, situado no reino dos mortos, ou como vocês a conhecem: na Umbra baixa. Buscá-lo é, sem dúvidas, uma tarefa hercúlea. Por isso vocês serão a ponte entre nós, Cainitas, e os Metamorfos residentes em Greenwich.

- Somente com o Graal, poderei usar de vosso sangue e conter o avanço da maldição que Collins criou. Não há outra forma. E que fique claro, Lobisomens, o que ele desencadeou poderá levar a humanidade à extinção.

Ouve de forma atenta e curiosa o relato. O Garou não deixa de demonstrar algum interesse na mitologia dos vampiros. Cada palavra é registrada em sua mente.

De fato, a quantidade de informações o deixa momentaneamente desnorteado. Era muito de uma só vez. Após os momentos de perplexidade inicial, começa as perguntas:

- Não compreendo...se a praga foi um grande ritual para exterminar a humanidade...qual o sentido do resto? Griffyd e Dupont, a guerra com Gales se torna desnecessária, afinal, a peste já está no mundo. Há algo mais nessa história?

* Olhou Wolf e o respondeu.

- Precisas ver além do óbvio, Senhor Wolf. Nosso convidado, Homem-Urso, recebeu um elixir contendo uma espécie de cura. Collins o usou como um teste, bem sucedido afinal.

- Para que serve a destruição, se não para recriar algo com um novo contorno? Se eu estivesse planejando o que Collins, Rhaskus e Dupont parecem estar, sem dúvidas eu selecionaria os aptos a viverem no novo mundo que seria criado. E pelo teste realizado no Senhor Bruin, suponho que esta seja a resposta.

- Bristol é a nova capital da Bretanha, perde em tamanho e influência apenas para a capital francesa. Comercio, navegações, relações. Um ponto estratégico de distribuição e controle da praga e quem sabe, do novo mundo. E a praga precisa circular para que seja efetiva.

- A partir de agora, será preciso que vejam sempre além do óbvio. Ou não teremos chances.

* Olha o Gurahl.

- Fora despejado ao mar, para morrer, Senhor Bruin. Ou acreditou que Collins pouparia sua vida após presenciar seu teatro estratégico? O resgatamos, assim como fizemos ao Senhor Wolf.

- Novamente, preciso que enxerguem além. Nossa aliança deverá permanecer em sigilo, até o momento apropriado. Convencer os demais metamorfos da importância desta busca não deverá ser complexo, quando os informar sobre a praga, sua natureza e fim e claro, como impedi-la.

- Espero que sejas capaz de sobrepujar esta inimizade, Senhor Bruin. Muito depende disto.

*Bebendo seu vitae, complementa.

- Sugiro que convençam um metamorfo que reside na baixa cidade, antes de irem ao Santuário. Seu nome é Gaspar, ele poderá ser encontrado na Taberna O Covil da Raposa.

- Sem dúvidas, ele será o mais receptivo ouvinte.

- Falaram, mas ainda não entendi onde me querem. Que eu me passe pelo tal Nashville, ou que eu vá convencer os Garou sobre essa caçada ao tal "Santo Graal"? Creio que não é possível promover ambas as ações ao mesmo tempo.

- Então o grande plano de Collins e os demais é promover uma guerra para...circular a praga? Melkor me disse a pouco que ainda não sabem ao certo o que é planejado. A cada explicação, menos as peças se encaixam.

- E Gruffyd também é um vampiro. Se o que preparam fosse simplesmente prejudicar a sobrevivência de sua raça "cainita", por que ele se envolve?

- Lamazus, se o espírito que me falou era seu servo, por que utilizou enigmas ao invés de me explicar o que estava sendo preparado? Não estaríamos nem mesmo aqui se o mínimo tivesse sido me informado.

Após disparar várias dúvidas que estavam em sua cabeça, respira fundo.

- Mais um pedaço de carne, por favor. Pararei com o vinho.

*Sua inexpressividade ganha contornos de descontamento.

- Nossa natureza é realmente distinta. Engana-se ao me enxergar como um de seus anciões, Senhor Wolf. Não comandarei suas ações e não possuo o detalhamento dos planos de Collins, Rhaskus e Dupont. Espiono, junto as peças e suponho.

- Sobre o que farão, minha sugestão é sua inserção no ciclo de Barões para lidar com a ameaça a Bristol. O senhor Bruin poderia agir para iniciar a busca do Graal.

- O princípio da manipulação é estar um passo a frente do manopulado. Supomos, devido a seguras informações obtidas, que Dupont e Gruffyd se aliaram para a tomada da Capital Bretã. Isso não significa que sejam igualmente aliados em relação à praga.

- Veja além, senhor Wolf.

- Dominar milhares de humanos é uma tarefa dificílima. Se os reduzirem à centenas, no entanto, seria notoriamente simples governar o mundo. Principalmente se somente aliados e escolhidos para receberem o elixir da cura continuassem vivos, além dos necessários escravos.

- Sobre o espírito que consegui a um custo elevado infiltrar na proteção espiritual que envolvia o navio, ele possuía apenas o conhecimento que eu detinha. Uma mensagem enigmática que interceptamos de um dos servos de Rhaskus.


- Se eu possuísse todas as respostas, senhor Wolf, esta reunião seria desnecessária. Eu mesmo teria destruído aquele navio.

- Sugestões? Sou inteiramente receptivo à uma nova visão dos fatos e possíveis alternativas.

*Fica alguns instantes pensativo*

-Gaspar... suponho que seja um lugar tão bom quanto qualquer outro para começar.

-Eu fico me lembrando. Tive a chance de destruir aquele navio e parei. Se soubesse o que estava em jogo, talvez devesse ter seguido em frente.

-Uma última coisa, Lamazus. Você é bem-informado. Sabe de algo sobre a família de Ricardo de Almain? A mulher e filha estavam no barco.

*Levanta uma sobrancelha com a nova informação.

- Os Almain, no navio!?...

- Intrigante...Sebastian é ardiloso.

*Permanece em silêncio por alguns segundos.

- Ricardo de Almain é irmão do antigo Rei, pai de Edward I. Está sempre presente no conselho de Barões...não compreendo.

- Collins ameaçaria um suposto aliado aleatóriamente? Não creio. Precisamos saber mais sobre Ricardo de Almain e sua relação com o Cardeal Richard Dupont.

- Não deve ter sido ameaça, então.

Respira fundo, e após um silêncio diz.

- Como conversamos anteriormente, Lamazus, estou morto mesmo. Nada mais tenho a perder. Aceito a proposta.

- Descobrirei o que eles estão tramando.

* Ouve o Gurahl.

- Testaram a suposta cura nos familiares de Almain. Ou simplesmente os assustaram. Ricardo, a essa altura, já tem conhecimento do ocorrido, pois sua esposa e filha residem no Castelo de Ferro e lá se encontram desde a chegada do navio.

* Ouve Wolf.

- Estima-me teu bom senso, senhor Wolf. Ou melhor, Harvey Neshville.

* Observa todos na sala por um instante.

- O Senhor Wolf prosseguirá com o plano de ocupar um lugar no Baronato local.

- O Senhor Bruin aceita o fardo de reunir os metamorfos para a busca do Graal?...Óbviamente deve fazê-lo sem revelar o envolvimento conosco. Diga-me, se precisas de algo que esteja a meu alcance para facilitar isto.

-Se estão bem, não tenho mais preocupações. Pelo menos nem tudo foi em vão. Eu confesso que tenho pouca ou nenhuma ideia de como chegar à Umbra Baixa, mas descobrirei. Prefiro não ter nenhuma ajuda sua. Quanto menos nos encontrarmos, melhor. Melhor para mim, vocês e para a missão. Embora tenha que te agradecer pelo salvamento, eu acho.

-Quanto a você, Uivo-do-Trovão, que Gaia guie seu caminho, porque vai precisar. 

*Começa a se levantar.*


-Se não houver mais nada...

* Olha sua Cria, Melkor.

- Prossiga com o planejado.

* Olha o Homem-Urso.

- Em verdade Senhor Bruin, eu lhe devo agradecimentos pelo que fará. Há mais uma coisa.

- Teu sangue, curado da praga, é vital para o desenvolvimento da cura. O estudei por um tempo, mas as propriedades contidas nele são voláteis, não duravam por muito tempo. Descobri uma forma de mantê-lo intacto por alguns meses.

- Partirás em uma busca ingrata, não posso arriscar o seu retorno. Tenho que me certificar de possuir uma quantidade suficiente de teu sangue. Para a cura de muitos, preciso que acompanhe Melkor até o local de coleta.

* Aprecia os últimos goles do Vitae, levanta-se olhando Wolf e Lamazus.

- Com vossa licença.

* Indica o caminho pelo corredor da direita, oposto ao que veio anteriormente, para o metamorfo urso.

- Me acompanha, Senhor Bruin?

-Mas é claro...

...que não.

-Vai me chamar de egoísta, mas eu já tenho motivos o suficientes para temer pelo meu bem-estar. Você não ter acesso ao meu sangue, tão prontamente, é uma garantia de que sou mais útil vivo do que morto. Considere uma precaução contra qualquer acidente que possa acontecer numa jornada que já é naturalmente perigosa.

*Bruin observa calmamente os dois vampiros, de pé com as duas mãos sobre a mesa.*

*Sentado à mesa, inexpressivo.

- Teu sangue, preservado, é a chave para a cura. O que acontecerá se não retornares da Lamentação de Eva?


- Decidas. Não agirei contra a tua vontade.

-Então não voltar passa a não ser uma opção. 

*Começa a se aprontar para deixar o recinto.*


-Na pior das hipóteses, tomarei providências para que receba o sangue. 

*Bebe o vitae de sua taça.

- Fora do teu corpo, armazenado aleatoriamente, teu sangue perde as propriedades que nos interessam. Mas esta esplanação parece não o ter convencido.

- Lucius providenciará uma carruagem para levá-lo aos portões da Baixa Cidade. Carregas nos ombros o destino da Montanha de Ferro, talvez, da humanidade.

- Espero vê-lo em breve, Senhor Bruin.

-Eu disse que tomarei providências, o que diz que tenho meus meios. Também espero lhe ver logo, Senhor Lamazus, com boas notícias. Sei que meu fardo é pesado. Até mais ver, e boa sorte para vocês três.

*Fica a postos, aguardando o cocheiro que Lamazus mencionou.*

O Garou ouve a conversa. Acha arriscada a decisão do Gurahl. Mas também coerente. Qualquer atitude seria insensata aos olhos de alguém. Só esperava que isso não venha a trazer malefícios a todos os envolvidos.

- Boa sorte, Bruin. Que Gaia tenha piedade de todos nós.

Faz um leve aceno. O Senhor das Sombras nunca teve afeição por outros metamorfos, e nem passou a ter. Mas no fim, estão todos do mesmo lado. Ao menos agora.

* Em pouco tempo, Lucius deixa o salão e retorna.

- Senhor Bruin, o cocheiro o aguarda nos portões.

* Ele abre o portão de saída e indica o caminho, passando por um grande jardim repleto de esculturas monstruosas em pedra. Ao fim deste, há uma carruagem negra repleta de adornos prateados. Dois cavalos negros como força e um cocheiro no mínimo, inusitado.

Ele usa um manto negro, com capuz, que não revela sua aparência. Até mesmo suas mãos são cobertas por luvas negras. No entanto, é possível notar que seu corpo é deformado. Uma imensa corcunda chama atenção e sua cabeça parece ser maior que o comum. Já posicionado para guiar a carruagem, o "ser" apenas aguarda a entrada do Homem-Urso para iniciar o trajeto ordenado pelo seu Senhor.


No interior do castelo, o diálogo prossegue.

* Após a saída do metamorfo, visivelmente descontente, questiona seu mestre.

- Meu Senhor, achas prudente deixá-lo partir sem garantir a posse do sangue?

* Se mantém de pé, colocando ambas as mãos na mesa.

* Sentado à mesa, apreciando o Vitae recém-colhido.

- Imprudente seria contrariar nossa única opção de convencer os Lobisomens à buscarem o artefato do qual precisamos. Ele possui a motivação necessária, retirar isso não seria conveniente.

* Olha Anthony.

- Senhor Wolf, queira acompanhar-me, por gentileza. O procedimento durará pelo restante da noite e nosso tempo está se esgotando.

* Levanta-se e caminha, voltando pelo corredor do qual trouxe o Gurahl.

* Bruin entra na carruagem que inicia a viagem deixando para trás o sombrio castelo.A noite seguia fria, iluminada por poucas estrelas e uma lua minguante pouco expressiva. O transporte seguiu pela trilha barrosa e rochosa, cercada por grandes árvores de todos os lados, por horas.

Enfim, avistam os grandes portões do Feudo de Bristol. Iluminado por diversas tochas em sua alta muralha, guarnecida dia e noite por cavaleiros do Rei. O Coche pára, a centenas de metros. A porta se abre e o ser misterioso, que de pé alcança os dois metros de altura, indica para que o "convidado" desça.

- A partir daqui, estás por conta própria.

* Sua voz ressoa como a de um homem idoso, sussurrante. Como se tivesse dificuldades em respirar.

*Ao sair da carruagem, Bruin olha melhor para o cocheiro. Era raro encontrar alguém de sua altura, e se esse "homem" não fosse corcunda, seria ainda maior. O Gurahl pensa, não pela última vez, que faria bem em se afastar de Lamazus e suas "obras".*

-Meus agradecimentos. Muito da minha estrada se trilha sozinho.

*A pé, o grande frade segue em direção ao portão.*

* Caminha até a mesa de pedra, prepara as amarras. Em seguida olha Wolf, inexpressivo.

- Admiro a abertura de tua mente. Ao longo dos séculos, me deparei com poucos de tua espécie que possuíam tamanha astúcia em fazer o que é preciso, quando preciso.

* Indica a mesa.

- Deite-se, por gentileza.

- Toda espécie possui a sua ala superior.

O Garou se deita na mesa. Ele fica um pouco assustado com o ambiente e com o que imagina que deverá ser feito.
Mas sem dor, não há vitória.

- Faça.

* Ata as amarras nos pulsos e tornozelos do lobisomem. Apertando-os firme, são de couro e aço entrelaçado.

- Estas amarras possuem um ritual específico que inutiliza tua capacidade de mudar de forma, uma precaução necessária. Alguns estímulos geram respostas físicas automáticas do corpo.

* Em seguida caminha até o barril e pega com as mãos limpas dois seres, duas enguias. As coloca sobre o corpo de Wolf, rapidamente, elas o mordem gerando uma dor aguda, mas suportável.

- Estas Enguias, especialmente modificadas, contém uma toxina que irá adormecer seu corpo inteiramente. Não sentirás dor, mas poderás ter alucinações.

* A esta altura, Wolf enxerga o ambiente turvo, se tentar falar sua língua irá se negar. Está pesada, amortecida. Não sente uma parte sequer de seu corpo, mas sente medo, naturalmente.
Começa a ver luzes de cores variadas e as paredes parecem se mover, ao olhar para o vampiro, nota que seu corpo cresce abruptamente, alcança os dois metros e tem uma aparência que parece ter vindo do próprio inferno cristão. Uma alucinação, talvez?



* Nota-o caminhar pela sala e pegar alguns instrumentos, em seguida, apaga por alguns instantes. Ao acordar, não sente dor, sente apenas uma pressão em seu peito e membros. Abre os olhos e nota seu tórax aberto para cima, que aliado a sua posição deitado o impede de ver o restante da parte de baixo. Apaga novamente.

Ao acordar, uma vez mais, vê imagens turvas da criatura segurando um de seus braços, desossando-o, aparentemente. Uma vez mais, apaga. Se vê em um ambiente escuro, com Trovões e Raios despencando sobre seus pés. Chuva torrencial. Em seguida, todos os raios, trovões e a própria chuva desaparecem.

Por fim, acorda, começa a sentir seus membros, não está mais amarrado à mesa. Não consegue ver Lamazus na sala. Está sozinho. Um escudo colocado em uma parede ao lado da mesa onde está deitado reflete uma imagem até então desconhecida: a sua nova imagem.

A experiência era inegavelmente assustadora.

Lamazus em uma forma demoníaca...ou era um delírio? Seu corpo aberto, sua incapacidade de falar. O Garou queria gritar, se contorcer em desespero, mas não podia.

Suportara todo o processo. As vezes consciente, as vezes inconsciente. Mas ao fim, estava vivo. Um novo rosto, um novo nome, um novo homem. Mas o mesmo Senhor das Sombras, os mesmos objetivos, as mesmas ambições.

Seus olhos se fixam no novo reflexo. E, pela primeira vez, algo de diferente ocorre em sua mente. Uma mudança repentina, algo estava mudado, muito mais em seu interior do que no exterior.
Um novo fôlego passou pelo Lobisomem.

Não era apenas desejo de vingança, não era apenas ódio.

Ele relembrou de tudo que aprendera com o tio. De todos os ensinamentos sobre Gaia e a Tríade, de todos os segredos da Sociedade de Nidhog.

Ao visualizar o reflexo,esboça um sorriso. Ele ainda era quem era, mesmo com outra face. O Escolhido de sua Tribo. O melhor dos melhores.

- Harvey Neshville.

- Anthony Wolf.

Estava mais vivo do que nunca. Olha para a saída do local e segue por ela, confiante de seu destino.

Os Dançarinos da Espiral Negra podem conspirar o quanto quiserem pelo trono do mundo.

A Arte de Conspirar é dos Senhores das Sombras. E o Trono do Mundo também será.

* Levanta-se, ainda com dificuldades, suas pernas estão "adormecidas". Aos poucos o sangue volta a circular normalmente.

Segue em direção à saída e nota Lucius o observando do lado de fora.

- Meu senhor, me companhe.

* Ele começa a caminhar, voltando ao salão principal e explicando no caminho.

- O senhor esteve em profundo sono desde a noite anterior, estamos no final da tarde de um novo dia. Há comida e bebida à sua espera.

* E, de fato, o Senhor das Sombras tinha bastante fome.

O Senhor das Sombras acompanha o serviçal.

- Excelente. Estou faminto.

Lamazus e Melkor logo acordarão e os preparativos finais serão dados. O tempo era curto para mover-se e barrar os planos da Wyrm.

Sebastian Collins e seus aliados teriam uma surpresa nos próximos dias.

* Ao falar, o Senhor das Sombras nota o quão diferente sua voz está. Sem dúvidas, a voz de um outro alguém.

Chegando no salão, Anthony Wolf ou Harvey Neshville, se depara com a grande mesa com os pratos e travessas postas, e um homem sentado. Um homem com as exatas feições que possui agora, com os pulsos amarrados e o corpo repleto de pequenas escoriações. Em desespero, com a cabeça baixa, ele clama.

- Pelo amor do bom Deus...me liberte...ofereço terras, ouro...mas me liberte.

* Ouvindo os passos se aproximarem, ele ergue o olhar e demonstra uma surpresa visceral.

- O que?...como?...Demônio! Quem és tu ser amaldiçoado!? Porque confundes minha visão?

* Diz, dirigindo-se a Wolf. Lucius, por sua vez, ignora tudo aquilo e trata de servir o prato destinado à Anthony com uma fatia generosa de carne mal passada.

* O Homem continua a esbravejar, gritar, clamar por Deus. Sempre olhando sua própria imagem, apreciando tranquilamente um corte de carne nobre.

Lucius se aproxima com vinho e serve a taça de Anthony, comentando.

- Caso desejes, poderás falar sem receios. O senhor Lamazus me instruiu a dizer-lhe que observe este homem atenciosamente, sob todos os aspectos. Ele não conseguirá escutar nenhuma palavra dita neste recinto.

* O servo deixa a garrafa de vinho sobre a mesa e se põe na entrada do Castelo, aguardando o sol se pôr para que abra o portão de entrada, deixando a visão do jardim e das inúmeras estátuas acessível a todos, como de costume.

* Enquanto aprecia o belo corte de carne, Wolf observa e analisa atenciosamente o modo de falar, sotaque e trejeitos do homem.

Percebe claramente que ele tem o hábito de suspender a sobrancelha esquerda enquanto fala seriamente. Nota também que ele estende a letra "R" de cada palavra, como se possuísse alguma ligação, ou instrução, com as terras germânicas. Além disso, percebe que, quando irritado, ele tende a cerrar os dentes.

Após terminar sua refeição e analisar todos os modos do verdadeiro Harvey, Wolf ouve a voz de Lamazus.

- Confortável com teu novo estado, senhor Wolf?

* Desce as escadarias e caminha lentamente em direção à mesa.

- Aprendeu o suficiente, eu espero.

* Senta-se à cabeceira.

O Senhor das Sombras aplica tudo o que presenciou com o refém. Utilizando o sotaque e sabendo conciliar com o erguer de sobrancelha nos momentos corretos, faz uma demonstração ao vampiro.

- Sou Harvey Neshville, legítimo herdeiro destas terras. E sou obrigado a comer com este bárbaro incivilizado?

Da uma risada de leve.

- Confesso que será uma experiência interessante.

* Termina de descer as escadarias gargalhando e aplaudindo.

- Esplêndido Senhor Wolf, realmente esplêndido.

* Se aproxima da mesa, retira um punhal do longo sobretudo negro e rasga o pescoço do homem amarrado. Em seguida pega uma taça e a enche do sangue pulsante que se esvai da vítima.

- Hora de planejarmos os detalhes.

* Senta-se e bebe o vitae.

* Analisa os trejeitos do recém nascido Harvey Neshville e pontua.

- Pratique durante toda a conversa que se segue. Deverá se habituar a agir naturalmente desta forma.

* Ignorando a cena realizada pelo jovem cainita, se põe a explicitar os fatos.

- Fisicamente, está indetectável. Mas, estarás lidando com poderosos seres sobrenaturais e por isso, tomaremos uma precaução maior para que sua natureza não seja descoberta.

* Retira uma pequena caixa negra das vestes e a abre, revelando um anel com o Brasão da Família Neshville : um Gavião de duas cabeças.

- O procedimento incluiu intervenção espiritual, desta forma, estás marcado com aquilo que gostas de chamar de...Wyrm. No entanto, sinto informar que apenas isto não é suficiente.

- Este anel contém um espírito da enganação aprisionado. O portador consegue mascarar completamente sua identidade, cheiro, aura, absolutamente qualquer forma de detecção falhará enquanto o usares. Infelizmente, há um efeito colateral.

* Coloca o anel na mesa à frente de Wolf.

- Enquanto usá-lo, serás incapaz de assumir tuas outras formas, assim como serás incapaz de visitar o reino espiritual. Para todos os efeitos, serás um simples humano marcado pela Wyrm. Um servo menor ou apenas um humano malígno, por assim dizer.

- Use-o.

O Garou escuta atentamente as palavras do Tzimisce. Sem deixar de imitar o falecido, prossegue.

- Entendo perfeitamente, Lamazus. Tens informações a mais a compartilhar? Digo, agora que sou Harvey Neshville, eu preciso saber o que ele sabia.

Enquanto fala, estende a mão e toma o anel, encaixando-o nos dedos.

* Bebendo o vitae, interfere.

- Naturalmente. Esta parte me diz respeito.

* Aponta o cadáver com a taça.

- Nosso convidado aqui foi dado como morto durante a última cruzada e seu irmão Taylor assumiu o Baronato e as terras. Inegavelmente, o jovem Neshville possui uma mente fraca e facilmente manipulável, sequer exerceu seu direito de estar à mesa de decisões do Rei.

- A propósito, como Barão, tens esse direito. Sentar-se à mesa do Conselho Real sempre que decisões importantes sobre o reino se apresentem. Clame por isso, não importa quem tente convencê-lo do contrário.

- Taylor está sob meu controle mental. É o único parente vivo de sua nova identidade, logo, não precisará se preocupar com detalhes sobre tua família e antigos aliados. O jovem Neshville será inteiramente prestativo, inclusive em devolver-lhe o direito ao Baronato e às terras.

- Infelizmente estamos sem tempo. Amanhã a noite será a reunião do conselho, o que significa que durante o próximo dia tu deverás clamar pela posição de Barão. Tudo já está arranjado. Irá até as terras de Neshville e de lá, partirás para o Castelo de Ferro, na Alta Cidade.


- Possuis pequenas terras ao norte. És o menos abastado dos barões locais, mas ao contrário do irmão, Harvey é respeitado como um experiente comandante bélico. Use isto. És um veterano de guerra, firme e orgulhoso.

- Não tens filhos ou esposa, costumas beber bastante.

* Bebe um gole a mais.

- Ao que me consta, creio não esquecer de nada.

- Sem família mais irritar, tudo ficará mais fácil.

- Muito bem. Se não houver mais nada a ser acrescentado, então está na hora de Harvey Neshville recuperar seu posto de barão.

Sorri aos dois vampiros. O Senhor das Sombras até achava que poderia vir a ser divertido.

* Ouve a explanação de Melkor e o comentário do licantropo. Permanece em silêncio por alguns instantes e complementa.

- Nos momentos adequados, um espírito servirá de elo entre o Senhor e Melkor, para a troca de informações com segurança.

- Lembre-se, o objetivo inicial é descobrir o máximo de informações possíveis para evitarmos ou retardarmos ao máximo o confronto iminente com Gales. Sejas sábio.

- Estarás, de uma forma bastante literal, na cova dos leões. Cometa um erro e estarás morto. Cometa um deslize e estarás só.

- Tens alguma dúvida?

- Nenhuma, Lamazus. Estou preparado.

O Garou encerra o banquete e fica de pé, demonstrando que estava em prontidão.